Wednesday, August 15, 2007

Um espectáculo para meter na gaveta


Fazer um espectáculo para o público infantil é dos desafios mais difíceis que se pode agarrar. É por isso que não é para todos. Há sensibilidades que não se adequam às exigências de um espectáculo para crianças. Não é um facto de que alguém tenha de se envergonhar, pois há tantas linhas estéticas diferentes que cada grupo pode explorar a que melhor se lhe adeque. O problema é quando um grupo insiste em entrar por uma linha, por um estilo, por um género com o qual não tem a mínima afinidade só porque tem de ser.
Foi exactamente isso que aconteceu com o grupo de teatro A Gaveta, na sua tentativa de produzir um espectáculo para crianças. A Pastorinha e o Cordeirinho, de Ricardo Alberty foi um engano e uma perda de tempo. Um engano porque a produção não estava concebida pedagogicamente para crianças. Um engano porque não valeu a pena fazer deslocar cerca de 400 crianças ao Centro Cultural António Aleixo para verem uns actores a dizerem umas coisas e fazerem umas caretas durante vinte minutos.
Ao nível do interesse pedagógico o texto de Ricardo Alberty tem de ser muito bem trabalhado ou então as crianças são levadas a pensar que se pode desrespeitar o guarda linha e passar a linha do comboio com a cancela fechada. Anti pedagógico e perigoso. Depois, toda a história desinteressante de uma pastora que perde um cordeiro e no fim o encontra através de uma velha que morava numa bota. Não se soube por que é que a velha morava na bota e qual foi a razão pela qual foi ela a encontrar o cordeirinho. Ao nível das interpretações, não basta um actor auto apelidar-se de parvo e ver as crianças a rir para se ter o espectáculo conseguido. É preciso haver empatia com as crianças e isso não aconteceu. Houve sempre um distanciamento, talvez porque as caretas que os actores faziam, sobretudo a pastorinha, retiravam verdade à interpretação e à história. As caretas e as representações cantadas de forma absurda que, em vez de garantirem o interesse da criançada, antes lho retiravam.
Com cerca de oito anos de existência o grupo a Gaveta já deveria ter a maturidade de saber enveredar pela sua linha estética que não é definitivamente a linha de teatro para crianças. Onde está a Gaveta do “Problema de Carícias numa Vernissage” ou das “Flores de Estufa”? A urgência de um director artístico consciente faz-se sentir neste grupo e um forte aconselhamento pedagógico, pois não é vendo espectáculos como “A pastorinha e o Cordeirinho” que as crianças irão aumentar o seu gosto pelo teatro.

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