Thursday, August 16, 2007

À conversa com Kowalski


À conversa com Andrezj Kowalski, o encenador que promete virar as cidades do Algarve e arredores do avesso com o seu Pandemónio, levantámos um pouco o véu do processo criativo daquela que irá ser a próxima produção para a época estival da Companhia de Teatro do Algarve.

Já deixou de fazer as contas aos quilómetros percorridos entre Faro e Leiria, cidade que semanalmente deixa para vir dirigir os ensaios de Pandemónio. Surgida em Abril, a ideia do espectáculo, cozinhada a quatro mãos com a escrita de Luís Mourão, tornou-se escrita em Junho. Pandemónio é, segundo Kowalski, “um espectáculo sobre a evolução do Homem. Sobre aquilo que nos faz ir. Seja para um, lado, para o outro, para a frente, é mais um exercício sobre o que não nos faz ficar parados à espera que as coisas aconteçam.” Uma das últimas frases do espectáculo é: “não se esqueçam de que o caminho mais simples é para a frente.” Com este mote pode contar-se a história da evolução do homem. Não de uma forma filosófica ou científica, mas coloquialmente, como dois amigos que se encontram e em duas horas de conversa amena dizem cinco minutos de frases que podem sintetizar a essência do Homem.
Existe uma personagem que evoca o “Velho do Restelo”, pois questiona constantemente a vontade que os outros têm de avançar. Avançar para onde? Para quê? Porquê? É talvez a metáfora do corte epistemológico e crítico que deve ocorrer em todos os processos de conhecimento.
Mas uma mensagem importante neste espectáculo tem a ver com a absoluta falta de controle na vida. “Por mais que pensemos que a vida está controlada há sempre uma surpresa. Mas é gratificante quando depois de termos passado por um grande pandemónio, nos apercebemos de que foi bom”.
Construído com base na coloquialidade quotidiana, como nos habituou a escrita escorreita de Luís Mourão, o texto mostra-nos que por detrás de um discurso caótico, como o são os discursos do dia-a-dia, esconde-se uma essência mais profunda.
No fundo, o grande objectivo, para além de se construir um espectáculo agradável para um público que se encontra a viver o Verão, é provocar um discurso reflexivo sobre nós e sobre a nossa caminhada. Dentro de uma apresentação simples existem vários níveis de discurso que se desvendam aos que estiverem disponíveis para os encontrar.
Se nos concentrarmos na ideia da caminhada humana, descobrimos que toda esta evolução é um grande pandemónio. Mas ainda bem que o tem sido, porque tem provocado as rupturas necessárias para haver necessidade de ir. Ao encontro de quê? Não interessa. A nossa essência talvez radique na ideia de procura insaciável da procura e talvez seja isso que nos torna tão especiais.
Com cenografia e construção de artefactos de Tó Quintas, figurinos de Esmeralda Bisnoca, coreografias de Evgeni Beliaev e música de Zé Eduardo, o elenco da ACTA estreia amanhã em Albufeira, e promete não deixar aquietas a nossa procura interior um pouco por todo o Algarve.

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