Os Dead Combo apresentaram-se duas noites no Centro de Artes Performativas do Algarve, em Faro. Uma agradável surpresa para quem ainda não os conhecia e um reviver de deliciosas memórias para quem já privava com o seu primeiro álbum. De uma forma ou de outra, um concerto que teve o privilégio de evocar a magia da efemeridade.
Uma guitarra, um contrabaixo, muitas ambiências. Uma cartola empoeirada sobre os olhos, um fato escuro com risquinha branca, sapatinhos brancos à malandro, um ramo de rosas vermelhas. O universo cénico está criado, como se de personagens de banda desenhada se tratassem. Surge a música e os Dead Combo revelam-se em toda a sua genuinidade, como se irrompessem de um filme de Wim Wenders. Do deserto de Paris Texas às ruas povoadas de rufias no Bairro Alto este duo faz-nos sonhar com universos esquecidos que se perdem atrás de um balcão de uma nunca esquecida Tia Alce. Tó Trips e Pedro V. Gonçalves juntaram-se numa ditosa noite, provenientes de uma homenagem a Carlos Paredes. Há encontros que não são coincidências e talvez o próprio Paredes tivesse nado um empurrãozinho na boleia pedonal que ambos tomaram nas conversas um dos outro até ao mítico Bairro Alto.
A música dos Dead Combo, aclamada pela crítica especializada desde 2004, surte um efeito místico em quem a ouve. Dignamente teatral cumpre a encenação até aos mais ínfimos pormenores. Talvez só ouvindo esta sonoridade e vendo a encenação com inspiração de cartoon se entenda finalmente as letras fatalistas dos fados. Às vezes os instrumentais têm essa capacidade de fazer entender melhor outras místicas, neste caso a mística fatalista do fado vadio. Deve ser verdade porque a sonoridade dos Dead Combo faz-nos sentir orgulhosos da nossa própria mortalidade, orgulhosos da nossa insuficiência, com vontade de pecar mortalmente.
After peace swing time é um duelo que brinca com a harmonia de uma guitarra evocativa de um Westen de Sérgio Leone, como o arrepiante Once upon a time in West com o ritmo racional do contrabaixo. Tal como no filme de Leone, Este tema dos Dead Combe torna mais aguda a consciência do último suspiro. É por isso um hino à vida e à necessidade urgente de a viver com intensidade. Mas este concerto não foi apenas a apresentação das 14 faixas do novo projecto dos Dead Combo, foi também a possibilidade de refrescar a memória e recordar Pacheco, Eléctrica Cadente, Rumbero ou Rua das Chagas.
Como corvos habitantes de paisagens nocturnas, os Dead Combo pagaram-nos uma viagem a universos de boémia, ressacas e urbanidades esquecidas com o sotaque da mais profunda Lisboa. Da Rua da Rosa à Rua das Chagas palmilhamos a alma do mais sombrio destino lisboeta, acordando com uma lua na algibeira, posta lá por uma qualquer paixão furtiva de uma noite só. Um fado, vadio, com sabor a Westen spaguetti. O tema inicial do concerto que dá o nome ao álbum, Quando a alma não é pequena tem a melodia chorada do fado amparada pelo ombro amigo de um leve toque de flamengo. As paisagens sonoras que este tema origina são fortes e doem nas almas perdidas mais incautas. A magia que opera quando se sabe que acaba. Dói, mas torna-se mais intensa porque a sabemos fugaz, como as paixões. É isso que os Dead Combo provocam: Uma paixão. Como quando se olha para a roda da sai de uma rapariga e se compõe um tema. Com Esperança que a rapariga olhe e veja alguma coisa interessante para retribuir o olhar.
Dead Combo não introduzem a voz nos seus temas para deixarem as paisagens voarem mais livremente na imaginação de quem os ouve. A não ser no carismático Ai, ai que vida, a que o público aderiu naturalmente, sem ser preciso outras palavras para mostrar o seu estado de espírito. Assim como a cartola que tapa os olhos e liberta as notas da cabeça do artista fala por si, os sapatos brancos batendo revoltados um ritmo ora violento ora doce. Assim como o ramo de rosas vermelhas abandonado sobre as caixas dos instrumentos fala de paixões consumadas e de outras por viver. Um ramo de rosas vermelhas é sempre uma promessa de paixão. Promessa que os Dead Combo souberam fazer cumprir em Faro.
Uma guitarra, um contrabaixo, muitas ambiências. Uma cartola empoeirada sobre os olhos, um fato escuro com risquinha branca, sapatinhos brancos à malandro, um ramo de rosas vermelhas. O universo cénico está criado, como se de personagens de banda desenhada se tratassem. Surge a música e os Dead Combo revelam-se em toda a sua genuinidade, como se irrompessem de um filme de Wim Wenders. Do deserto de Paris Texas às ruas povoadas de rufias no Bairro Alto este duo faz-nos sonhar com universos esquecidos que se perdem atrás de um balcão de uma nunca esquecida Tia Alce. Tó Trips e Pedro V. Gonçalves juntaram-se numa ditosa noite, provenientes de uma homenagem a Carlos Paredes. Há encontros que não são coincidências e talvez o próprio Paredes tivesse nado um empurrãozinho na boleia pedonal que ambos tomaram nas conversas um dos outro até ao mítico Bairro Alto.
A música dos Dead Combo, aclamada pela crítica especializada desde 2004, surte um efeito místico em quem a ouve. Dignamente teatral cumpre a encenação até aos mais ínfimos pormenores. Talvez só ouvindo esta sonoridade e vendo a encenação com inspiração de cartoon se entenda finalmente as letras fatalistas dos fados. Às vezes os instrumentais têm essa capacidade de fazer entender melhor outras místicas, neste caso a mística fatalista do fado vadio. Deve ser verdade porque a sonoridade dos Dead Combo faz-nos sentir orgulhosos da nossa própria mortalidade, orgulhosos da nossa insuficiência, com vontade de pecar mortalmente.
After peace swing time é um duelo que brinca com a harmonia de uma guitarra evocativa de um Westen de Sérgio Leone, como o arrepiante Once upon a time in West com o ritmo racional do contrabaixo. Tal como no filme de Leone, Este tema dos Dead Combe torna mais aguda a consciência do último suspiro. É por isso um hino à vida e à necessidade urgente de a viver com intensidade. Mas este concerto não foi apenas a apresentação das 14 faixas do novo projecto dos Dead Combo, foi também a possibilidade de refrescar a memória e recordar Pacheco, Eléctrica Cadente, Rumbero ou Rua das Chagas.
Como corvos habitantes de paisagens nocturnas, os Dead Combo pagaram-nos uma viagem a universos de boémia, ressacas e urbanidades esquecidas com o sotaque da mais profunda Lisboa. Da Rua da Rosa à Rua das Chagas palmilhamos a alma do mais sombrio destino lisboeta, acordando com uma lua na algibeira, posta lá por uma qualquer paixão furtiva de uma noite só. Um fado, vadio, com sabor a Westen spaguetti. O tema inicial do concerto que dá o nome ao álbum, Quando a alma não é pequena tem a melodia chorada do fado amparada pelo ombro amigo de um leve toque de flamengo. As paisagens sonoras que este tema origina são fortes e doem nas almas perdidas mais incautas. A magia que opera quando se sabe que acaba. Dói, mas torna-se mais intensa porque a sabemos fugaz, como as paixões. É isso que os Dead Combo provocam: Uma paixão. Como quando se olha para a roda da sai de uma rapariga e se compõe um tema. Com Esperança que a rapariga olhe e veja alguma coisa interessante para retribuir o olhar.
Dead Combo não introduzem a voz nos seus temas para deixarem as paisagens voarem mais livremente na imaginação de quem os ouve. A não ser no carismático Ai, ai que vida, a que o público aderiu naturalmente, sem ser preciso outras palavras para mostrar o seu estado de espírito. Assim como a cartola que tapa os olhos e liberta as notas da cabeça do artista fala por si, os sapatos brancos batendo revoltados um ritmo ora violento ora doce. Assim como o ramo de rosas vermelhas abandonado sobre as caixas dos instrumentos fala de paixões consumadas e de outras por viver. Um ramo de rosas vermelhas é sempre uma promessa de paixão. Promessa que os Dead Combo souberam fazer cumprir em Faro.
A foto foi gentilmente cedida pela fotógrafa Rita Carmo
1 comment:
Muito Bom! Obrigado pelo excelente texto.
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