O Teatro das Figuras desoculta o que está atrás do pano. Uma visita encenada destinada aos mais novos que, numa linguagem adequada ao público infantil, mostra os sítios e os segredos mais recônditos do imponente teatro.
O que se esconde por detrás do pano? Para o descobrir, as crianças têm de entrar pela porta que dá acesso à parte de trás do palco. Entram e penetram numa ambiência estranha, de cor vermelha envolvida por um denso nevoeiro. Nessa caixa preta e inóspita surge num écran o sorriso simpático de José Louro, o nobre e gentil anfitrião. As crianças ficam mais descansadas e acalmam-se ao ouvirem que são bem-vindas e que, apesar de não as poder acompanhar naquela visita por causa de uma unha encravada, as deixaria entregues aos cuidados do senhor e da senhora Figuras. De facto, depois da mensagem se ter “auto-destruído”, aparecem duas personagens, Fred Figura e Olímpia Figura, que se propõem guiar as crianças numa missão quase impossível. Os actores, Ricardo Mendonça e Adelaide Fonseca, recriando o universo dos filmes de espionagem, conduzem o público, separado em dois grupos, a cumprir cinco missões.
O grupo que foi com a senhora Olímpia Figuras, espia de gabarito internacional, começou a visita por uma varanda muito especial: a varanda que fica por cima do palco e de onde o maquinista de cena sobe e desce os telões, as varas e alguns cenários mais complicados. O técnico Octávio explicou às crianças a lógica dos contrapesos, enquanto a senhora Olímpia ia estimulando as crianças com perguntas acerca do teatro. Impondo as regras numa linguagem própria para as crianças, levou-as a seguir cautelosamente em fila indiana pelas íngremes escadarias que conduzem à varanda interior, de onde não se avista o mar, mas se pode privar com o infinito. Ainda na varanda as crianças foram instruídas, através de uma mensagem altamente secreta, do objectivo e do local da sua próxima missão. O objectivo era espiar os actores nos camarins, local onde os artistas se preparam antes de irem para cena. Chegados ao patamar dos camarins, ouve-se a gravação que anuncia o início do espectáculo daí a 30 minutos. Os petizes foram levados ao mais íntimo dos actores, pois entraram na sala onde, frente a um espelho, duas actrizes se estavam a preparar através de exercícios de descontracção de corpo e da caracterização. Nomes técnicos como figurinos e charriots também passaram a fazer parte do léxico dos mais novos. Dos camarins colectivos passaram ao camarim individual, onde o actor principal estava, de forma muito concentrada, a aquecer a voz. A missão número dois estava cumprida e a agente especial Olímpia Figuras conduziu o grupo para a missão número três: descer até às profundezas do teatro e visitar o sub-palco. Foi nesse sítio, pleno de maquinaria e elevadores que os dois grupos se encontraram. Perceberam o significado das quarteladas e assistiram ao segundo espectáculo do programa: uma personagem que habitava o sub-palco e vivia alimentado pelas movimentações havidas no palco. O boneco Al, não de al-garvio nem de Al-Pacino, apesar de também ser actor, era Al-çapão, por viver debaixo do palco. Depois de assistirmos à canção que o Al, manipulado por Déborah Benveniste, cantou para os seus convidados, as crianças foram informadas da sua penúltima missão: subir ao palco e assistir a um espectáculo de teatro! A subida do sub-palco foi feita ainda com mais entusiasmo e, chegadas ao palco, as crianças puderam sentar-se na boca de cena em cima de enormes almofadas de cores apelativas. À sua frente já estava uma actriz pronta para começar. Quando todos se acomodaram e o silêncio se fez sentir o espectáculo começou. Era uma versão da Cinderela dramaturgicamente trabalhada para a realidade actual. Uma rapariga de dezasseis anos que vai passar férias a casa do pai e da madrasta. Pede para sair à noite e o pai não a deixa, apesar de permitir que a sua enteada saia. A Gata Borralheira dos tempos modernos pede então ajuda à fada madrinha dos dias de hoje, a Internet, e encomenda um vestido para uma festa de garagem. Como o espectáculo é dirigido ao público infantil, a hora limite para ficar na festa é até às 20h00. O vestido desce, como que por magia, do tecto, e a Estela, nome atribuído à Cinderela do século XXI, apronta-se e sai, desobedecendo às ordens do pai. Na festa encontra um rapaz por que fica petrificada. O telemóvel toca, reclamando a devolução do vestido às oito da noite e a adolescente corre pelas ruas da cidade, deixando cair um dos brincos, que o rapaz que a seguia embevecido, apanhou. No dia seguinte, conversando com a filha da sua madrasta, a mal vestida e desengraçada Natacha, descobriu que ninguém a tinha reconhecido. O amigo da sua meia-irmã foi visitá-la e, de novo, o olhar deslumbrado de quem está apaixonado, ao cruzar-se com Estela, voltou. O narrador explicou: “não se sabe se foram felizes para sempre mas, pelo menos durante duas semanas, foram o mais que tudo um do outro”.
A missão número cinco foi a mais difícil. Depois de terem assistido à peça, os visitantes dividiram-se em cinco grupos (som, luz, maquinaria de cena, direcção de cena e interpretação) e foram eles próprios fazer o espectáculo. Primeiro tiveram uma breve explicação por parte dos técnicos e depois controlaram todos os comandos necessários ao bom desempenho do espectáculo.
No final houve uma reunião com todos os participantes, para se discutir o que correu mal e o que correu bem no espectáculo, a fim de se poder melhorar. A palavra foi dada às crianças, e houve logo quem questionasse o facto dos vasos não descerem até ao chão e ficarem a flutuar em frente das raparigas que os estavam a regar. Perguntas difíceis que deixam algum embaraço nos mais graúdos. Os adultos que também acompanharam a visita zero ao Teatro das Figuras frequentemente se deixaram levar pelo espírito da missão quase impossível, de tal maneira que muitas vezes se antecipavam e respondiam à questões pensadas para as crianças.
Com estas visitas o Teatro das Figuras está a desempenhar a sua função pedagógica de formação de públicos pois, quando estas crianças assistirem a um espectáculo saberão o que se esconde por detrás do pano.
O que se esconde por detrás do pano? Para o descobrir, as crianças têm de entrar pela porta que dá acesso à parte de trás do palco. Entram e penetram numa ambiência estranha, de cor vermelha envolvida por um denso nevoeiro. Nessa caixa preta e inóspita surge num écran o sorriso simpático de José Louro, o nobre e gentil anfitrião. As crianças ficam mais descansadas e acalmam-se ao ouvirem que são bem-vindas e que, apesar de não as poder acompanhar naquela visita por causa de uma unha encravada, as deixaria entregues aos cuidados do senhor e da senhora Figuras. De facto, depois da mensagem se ter “auto-destruído”, aparecem duas personagens, Fred Figura e Olímpia Figura, que se propõem guiar as crianças numa missão quase impossível. Os actores, Ricardo Mendonça e Adelaide Fonseca, recriando o universo dos filmes de espionagem, conduzem o público, separado em dois grupos, a cumprir cinco missões.
O grupo que foi com a senhora Olímpia Figuras, espia de gabarito internacional, começou a visita por uma varanda muito especial: a varanda que fica por cima do palco e de onde o maquinista de cena sobe e desce os telões, as varas e alguns cenários mais complicados. O técnico Octávio explicou às crianças a lógica dos contrapesos, enquanto a senhora Olímpia ia estimulando as crianças com perguntas acerca do teatro. Impondo as regras numa linguagem própria para as crianças, levou-as a seguir cautelosamente em fila indiana pelas íngremes escadarias que conduzem à varanda interior, de onde não se avista o mar, mas se pode privar com o infinito. Ainda na varanda as crianças foram instruídas, através de uma mensagem altamente secreta, do objectivo e do local da sua próxima missão. O objectivo era espiar os actores nos camarins, local onde os artistas se preparam antes de irem para cena. Chegados ao patamar dos camarins, ouve-se a gravação que anuncia o início do espectáculo daí a 30 minutos. Os petizes foram levados ao mais íntimo dos actores, pois entraram na sala onde, frente a um espelho, duas actrizes se estavam a preparar através de exercícios de descontracção de corpo e da caracterização. Nomes técnicos como figurinos e charriots também passaram a fazer parte do léxico dos mais novos. Dos camarins colectivos passaram ao camarim individual, onde o actor principal estava, de forma muito concentrada, a aquecer a voz. A missão número dois estava cumprida e a agente especial Olímpia Figuras conduziu o grupo para a missão número três: descer até às profundezas do teatro e visitar o sub-palco. Foi nesse sítio, pleno de maquinaria e elevadores que os dois grupos se encontraram. Perceberam o significado das quarteladas e assistiram ao segundo espectáculo do programa: uma personagem que habitava o sub-palco e vivia alimentado pelas movimentações havidas no palco. O boneco Al, não de al-garvio nem de Al-Pacino, apesar de também ser actor, era Al-çapão, por viver debaixo do palco. Depois de assistirmos à canção que o Al, manipulado por Déborah Benveniste, cantou para os seus convidados, as crianças foram informadas da sua penúltima missão: subir ao palco e assistir a um espectáculo de teatro! A subida do sub-palco foi feita ainda com mais entusiasmo e, chegadas ao palco, as crianças puderam sentar-se na boca de cena em cima de enormes almofadas de cores apelativas. À sua frente já estava uma actriz pronta para começar. Quando todos se acomodaram e o silêncio se fez sentir o espectáculo começou. Era uma versão da Cinderela dramaturgicamente trabalhada para a realidade actual. Uma rapariga de dezasseis anos que vai passar férias a casa do pai e da madrasta. Pede para sair à noite e o pai não a deixa, apesar de permitir que a sua enteada saia. A Gata Borralheira dos tempos modernos pede então ajuda à fada madrinha dos dias de hoje, a Internet, e encomenda um vestido para uma festa de garagem. Como o espectáculo é dirigido ao público infantil, a hora limite para ficar na festa é até às 20h00. O vestido desce, como que por magia, do tecto, e a Estela, nome atribuído à Cinderela do século XXI, apronta-se e sai, desobedecendo às ordens do pai. Na festa encontra um rapaz por que fica petrificada. O telemóvel toca, reclamando a devolução do vestido às oito da noite e a adolescente corre pelas ruas da cidade, deixando cair um dos brincos, que o rapaz que a seguia embevecido, apanhou. No dia seguinte, conversando com a filha da sua madrasta, a mal vestida e desengraçada Natacha, descobriu que ninguém a tinha reconhecido. O amigo da sua meia-irmã foi visitá-la e, de novo, o olhar deslumbrado de quem está apaixonado, ao cruzar-se com Estela, voltou. O narrador explicou: “não se sabe se foram felizes para sempre mas, pelo menos durante duas semanas, foram o mais que tudo um do outro”.
A missão número cinco foi a mais difícil. Depois de terem assistido à peça, os visitantes dividiram-se em cinco grupos (som, luz, maquinaria de cena, direcção de cena e interpretação) e foram eles próprios fazer o espectáculo. Primeiro tiveram uma breve explicação por parte dos técnicos e depois controlaram todos os comandos necessários ao bom desempenho do espectáculo.
No final houve uma reunião com todos os participantes, para se discutir o que correu mal e o que correu bem no espectáculo, a fim de se poder melhorar. A palavra foi dada às crianças, e houve logo quem questionasse o facto dos vasos não descerem até ao chão e ficarem a flutuar em frente das raparigas que os estavam a regar. Perguntas difíceis que deixam algum embaraço nos mais graúdos. Os adultos que também acompanharam a visita zero ao Teatro das Figuras frequentemente se deixaram levar pelo espírito da missão quase impossível, de tal maneira que muitas vezes se antecipavam e respondiam à questões pensadas para as crianças.
Com estas visitas o Teatro das Figuras está a desempenhar a sua função pedagógica de formação de públicos pois, quando estas crianças assistirem a um espectáculo saberão o que se esconde por detrás do pano.
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