À primeira impressão, quem ouvisse falar num festival mau que se iria realizar em Faro, poderia pensar que era uma série comemorativa da revolução cultural chinesa. Quando nos apercebemos da mudança do O pelo U e percebemos que o que é esperado é mesmo MAU, podemos pensar: mas o que é que motivará uma série de pessoas no seu juízo perfeito a organizar um festival mau? O cartaz é claro e prometia factos, desprogramação e doçaria artesanal. Em conversa com um dos organizadores do dito festival, Paulo Razoável, fomos apurando um pouco melhor do que se espera deste tipo de iniciativa. Mau, como bom, são conceitos relativos que utilizamos na maior parte das vezes, um pouco aleatoriamente, ou segundo critérios impostos por uma estética vigente, sem aprofundar a sua essência. Paul Valèry dizia que o belo é um conceito negativo, exactamente porque é muito mais fácil apontar um objecto como horrível, ou mau, do que apontá-lo como bom ou belo. Neste caso concreto o conceito de mau aponta mais para uma aproximação de alternativo do que a uma ausência completa da faculdade do gosto. Mas para se participar no festival, nomeadamente integrando a categoria de vídeos, é preciso que os trabalhos se sujeitem a uma selecção e ser considerado suficientemente mau, ou neste caso, suficientemente alternativo, para poder passar a integrar esta mostra alternativa.
Agradados com a proposta ficaram três realizadores estrangeiros: Volcofky dos Estados Unidos, Joshua Bryan do Reino Unido e Raul Cerezo de Espanha, que voaram graciosamente dos seus países de origem até Portugal só por se assumirem como apoiantes do conceito desta mostra. E ao longo dos três dias estes três realizadores estiveram em Faro para falar dos seus filmes alternativos com o público do festival mau.
Demarcados de Faro Capital Nacional da Cultura, fazendo questão de o afirmar em todos os suportes publicitários relativos ao festival, Paulo Razoável insiste em considerar o grande evento que está a dominar as atenções em Faro, como um grande circo que veio à cidade. O circo vem, as pessoas admiram, algumas até se deslumbram, mas o circo parte e a vida continua como era: com as mesmas necessidades, as mesmas dificuldades e as mesmas angústias. No festival mau ao menos vêem-se vídeos, instalações, performances marginais ao gosto imposto pelos programadores.
Paradoxalmente, ao repto de participar neste festival responderam mais artistas de fora do Algarve do que propriamente da região. Lisboa e Coimbra são as proveniências dos artistas que mais se fizeram sentir no festival, e também a Estónia se fez representar com uma série de vídeos integrados na categoria Kaleidoscope, que, curiosamente quer dizer na sua remota origem, a capacidade de ver imagens bonitas.
Sobre a performance teatral de Paulo João, mais um actor da capital, que apresentou o texto da sua autoria Dor de Burro Quando Foge e Cartas Matrimoniais de Artaut. Desta actuação apenas se pode dizer que foi de uma banalidade e escassez de recursos atroz. Não era suficientemente alternativo para ser interessante nem suficientemente bom para ser aplaudido. Dois monólogos apresentados de forma banal e desinteressante, que tornaram fútil a actuação do actor naquele espaço. Quando se lê o nome de Artaud na folha de sala espera-se, no mínimo, que se faça justiça ao mestre do teatro da violência, o que não aconteceu. Paulo João tem uma voz bonita e sabe decorar texto. Mas isso não é suficiente para fazer parte de um festival deste género, por muito que se auto designe como festival mau. A sua actuação não passou de um enorme bocejo com pretensões a alternativo.
Por outro lado, intervenções como Bird Song, instalação vídeo e Information Overload Unit souberam impressionar pela linha realmente alternativa que conseguiram explorar.
The Handshake Fracasso, a obra da Associação olfactopelaforma que ganhou o prémio de jovens criadores na área do vídeo em 2004, voltou a ser apresentada ao público entusiasta desta iniciativa.
Apesar de não ter tido a adesão que provavelmente mereceria, o Festival Mau promete regressar e contribuir para a criação de produções alternativas e para a educação de públicos com um sentido de gosto mais eclético que arrisquem participar numa iniciativa que fuja ao gosto imposto pelas modas vigentes. Para o ano há mais e espera-se não só da parte do público, mas sobretudo da dos criadores algarvios, o risco de abraçar um festival alternativo desta dimensão.
Agradados com a proposta ficaram três realizadores estrangeiros: Volcofky dos Estados Unidos, Joshua Bryan do Reino Unido e Raul Cerezo de Espanha, que voaram graciosamente dos seus países de origem até Portugal só por se assumirem como apoiantes do conceito desta mostra. E ao longo dos três dias estes três realizadores estiveram em Faro para falar dos seus filmes alternativos com o público do festival mau.
Demarcados de Faro Capital Nacional da Cultura, fazendo questão de o afirmar em todos os suportes publicitários relativos ao festival, Paulo Razoável insiste em considerar o grande evento que está a dominar as atenções em Faro, como um grande circo que veio à cidade. O circo vem, as pessoas admiram, algumas até se deslumbram, mas o circo parte e a vida continua como era: com as mesmas necessidades, as mesmas dificuldades e as mesmas angústias. No festival mau ao menos vêem-se vídeos, instalações, performances marginais ao gosto imposto pelos programadores.
Paradoxalmente, ao repto de participar neste festival responderam mais artistas de fora do Algarve do que propriamente da região. Lisboa e Coimbra são as proveniências dos artistas que mais se fizeram sentir no festival, e também a Estónia se fez representar com uma série de vídeos integrados na categoria Kaleidoscope, que, curiosamente quer dizer na sua remota origem, a capacidade de ver imagens bonitas.
Sobre a performance teatral de Paulo João, mais um actor da capital, que apresentou o texto da sua autoria Dor de Burro Quando Foge e Cartas Matrimoniais de Artaut. Desta actuação apenas se pode dizer que foi de uma banalidade e escassez de recursos atroz. Não era suficientemente alternativo para ser interessante nem suficientemente bom para ser aplaudido. Dois monólogos apresentados de forma banal e desinteressante, que tornaram fútil a actuação do actor naquele espaço. Quando se lê o nome de Artaud na folha de sala espera-se, no mínimo, que se faça justiça ao mestre do teatro da violência, o que não aconteceu. Paulo João tem uma voz bonita e sabe decorar texto. Mas isso não é suficiente para fazer parte de um festival deste género, por muito que se auto designe como festival mau. A sua actuação não passou de um enorme bocejo com pretensões a alternativo.
Por outro lado, intervenções como Bird Song, instalação vídeo e Information Overload Unit souberam impressionar pela linha realmente alternativa que conseguiram explorar.
The Handshake Fracasso, a obra da Associação olfactopelaforma que ganhou o prémio de jovens criadores na área do vídeo em 2004, voltou a ser apresentada ao público entusiasta desta iniciativa.
Apesar de não ter tido a adesão que provavelmente mereceria, o Festival Mau promete regressar e contribuir para a criação de produções alternativas e para a educação de públicos com um sentido de gosto mais eclético que arrisquem participar numa iniciativa que fuja ao gosto imposto pelas modas vigentes. Para o ano há mais e espera-se não só da parte do público, mas sobretudo da dos criadores algarvios, o risco de abraçar um festival alternativo desta dimensão.
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