Friday, August 17, 2007

Jacinta - o jazz em pessoa


«The greatest blues singer in the world will never stop singing». Esta é a homenagem que Bessie Smith tem na sua última morada. O elogio fúnebre materializa-se paradoxalmente na voz de Jacinta, que em boa hora gravou para a BLUE NOTE – EMI Portugal o álbum Tributo a Bessie Smith, que já conseguiu ser disco de ouro. Para quem quer tentar esta difícil carreira o seu conselho é: Fazer acontecer.
Os seus olhos claros de criança rebelde não conseguem esconder o gosto pela música quando, numa atarefada tarde nos cruzámos em Lisboa, entre um projecto editorial e uma aula de canto. Jacinta, que desde os 4 anos estuda música clássica, cedo começou a ter uma apetência pelo jazz. Enveredou pela composição por considerar que era a disciplina que lhe seria mais útil para a compreensão do jazz. Reconhece que foi criada num meio de uma certa elite musical e quando questionada sobre a criação da apetência nos jovens para o jazz, lamenta que “hoje em dia a cultura seja tão anti-cultura. Os meios de divulgação cultural, em vez de elevarem o gosto do público, vão ao encontro do que é mais fácil. Assim é muito difícil criar nos jovens uma apetência por um estilo musical que nunca ouvem. Eu nem queria acreditar quando o Júlio Isidro me disse que chegava a passar o Festival de Jazz de Cascais na televisão na íntegra! Perante o panorama actual perguntei-me: como é possível?”
A sua rendição às cantoras de blues foi consumada quando em sua casa se comprou um disco com temas de Natal interpretado por grandes nomes do jazz. Entre eles estavam Sarah Vaugham, Billie Holliday e Ella Fitzgerald. Nesse momento Jacinta compreendeu que era naquela área que queria investir. Foi de malas e bagagens para Nova Iorque, para estudar onde o jazz tem as suas raízes. Na terra do jazz, Jacinta consegue impressionar os seus mestres e realiza ganha uma bolsa para frequentar um mestrado em Jazz Vocal Depois de muita luta, de muitos port-folios e maquetes distribuídos nos clubes de jazz de referência, começa a sua carreira de cantora, impressionando desde logo o público mais exigente e conhecedor do jazz.
Aclamada pela crítica especializada, que a considerou como uma cantora de “consumo obrigatório”, Jacinta virá apresentar o seu mais recente álbum ao Teatro Municipal de Faro. Considerada uma das grandes vocalistas do momento por Rodrigo Affreixo no jornal Blitz, , Jacinta recebeu o prémio 'Músico Revelação 2001' do programa Cinco Minutos de Jazz (Antena1 desde 1966).
Em Fevereiro de 2003 Jacinta voltou a Portugal, a convite do aclamado trompetista e compositor
Laurent Filipe, para uma série de concertos de homenagem a Bessie Smith a grande imperatriz do Blues.
Entre os mais respeitados críticos de jazz em Portugal, Jacinta foi descrita por António Rúbio como tendo 'uma presença em palco cheia de confiança e à vontade. Para este crítico, Jacinta “possui um forte sentido rítmico e um estilo de improvisação digno de uma cantora cheia de maturidade, de um nível que nunca apareceu neste país”. Dela também escreveu António Ferro que é possuidora de uma 'voz forte e soberana' .
Peter Eldridge vai mais longe e afirma, no The New York Voices que “Jacinta canta da alma com uma alegria contagiante… Tratando cada tema que canta com respeito”. Que se pode dizer mais de uma cantora, que ainda por cima nos contagia com aquele fantástico sorriso?
A quem quer enveredar por esta difícil carreira Jacinta diz “Tem que ter muita coragem, muita força, muita perseverança. Ir à luta e não ficar à espera que as coisas aconteçam por si. É preciso sobretudo fazer acontecer, porque é um caminho muito difícil.”
Apesar de ser reconhecida no estrangeiro, é em Portugal que Jacinta quer investir na sua carreira. Sempre sem nunca perder as referências do que acontece na Europa e nos Estados Unidos, Jacinta, que se sente muito bem acolhida no seu país, quer continuar a lutar por um lugar na música nacional.No espectáculo de amanhã, Jacinta será acompanhada por Diogo Vida no piano, Zé Pedro no saxofone, Rodrigo Monteiro no contrabaixo e João Cunha na bateria. Agora, com o novo disco DayDream, onde apresenta um jazz mais “puro e duro”, a nova voz do Jazz vem ao Algarve interpretar Thelonious Monk, Duke Ellington, Tom Jobim, Djavan, e a “Canção de Embalar” de José Afonso. Os temas de Duke Ellington têm a particularidade de serem cantados em português com poemas de Tiago Torres da Silva.É pois, com grande expectativa que o Algarve irá receber amanhã no Teatro Municipal de Faro esta grande embaixadora do jazz.

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