Dois homens. Um mastro chinês e música. Fazer um espectáculo a partir destes elementos pode não ser difícil. Fazer um espectáculo que toque em diversas dimensões do ser humano, já precisa de ter como condimento alguma genialidade. Foi isto que aconteceu no dia 5 de Novembro, no Teatro Municipal de Faro. João Paulo Pereira dos Santos, formado pelo Centre National dês Arts du Cirque, teve um encontro ditoso como o músico Guillaume Dutrieux. Desse encontro nasceu uma proposta de linguagens alternativas que deu origem a um espectáculo, Peut-être, baseado nas técnicas circences mas que, em vez de nos fazer pensar no sentido decadente do velho circo, nos abre os horizontes para um cruzamento entre o possível e o impossível. Tudo na vida é um Peut-être, até termos a vontade de arriscar. O músico, de patins, abre-nos a atenção para a instabilidade do plano horizontal, que calcorreamos quotidianamente sem pensar. O jovem artista circence mostra-nos uma relação com o mastro japonês de tal forma que somos levados a pensar que a estabilidade perdida no plano horizontal é reencontrada no plano vertical. É fácil trepar, andar pelo mastro, fazendo parecer a Pipi das Meias Altas uma invenção bacoca e absurda. Com momentos poético, em que se ouve um contrabaixo ou um trompete deitado à luz de um candeeiro de rua, este espectáculo brinca também com a imagem duplicada numa tela onde se projectam reproduções gravadas em vídeo. João Paulo Pereira dos Santos brinca com o seu duplo como Peter Pan brincava com a sua sombra. Matéria / Anti-matéria, o par que em física se anula mas que no palco se completam, deixando mesmo no espectador uma sensação de ambivalência e estranheza ao procurar qual é o real e qual é o virtual. O próprio artista do mastro se chega a sentir desalentado ao ver a sua imagem virtual realizar as suas próprias proezas. Desafio que ele agarra, lutando contra a sua própria projecção, vencendo a tela e assumindo-se como o único rei e senhor do mastro. A música também dialoga ora sob o formato acústico ora digital, deixando ao músico espaço de manobra para interagir com o artista do mastro de uma forma muito mais livre. Quarenta e cinco minutos de ilusões de óptica e de som, que contribuíram para uma reescrita da nossa lógica cartesiana. Afinal são os sentidos que nos estarão a enganar ou será a própria razão?
Friday, August 17, 2007
A arte do mastro num solo de jazz
Dois homens. Um mastro chinês e música. Fazer um espectáculo a partir destes elementos pode não ser difícil. Fazer um espectáculo que toque em diversas dimensões do ser humano, já precisa de ter como condimento alguma genialidade. Foi isto que aconteceu no dia 5 de Novembro, no Teatro Municipal de Faro. João Paulo Pereira dos Santos, formado pelo Centre National dês Arts du Cirque, teve um encontro ditoso como o músico Guillaume Dutrieux. Desse encontro nasceu uma proposta de linguagens alternativas que deu origem a um espectáculo, Peut-être, baseado nas técnicas circences mas que, em vez de nos fazer pensar no sentido decadente do velho circo, nos abre os horizontes para um cruzamento entre o possível e o impossível. Tudo na vida é um Peut-être, até termos a vontade de arriscar. O músico, de patins, abre-nos a atenção para a instabilidade do plano horizontal, que calcorreamos quotidianamente sem pensar. O jovem artista circence mostra-nos uma relação com o mastro japonês de tal forma que somos levados a pensar que a estabilidade perdida no plano horizontal é reencontrada no plano vertical. É fácil trepar, andar pelo mastro, fazendo parecer a Pipi das Meias Altas uma invenção bacoca e absurda. Com momentos poético, em que se ouve um contrabaixo ou um trompete deitado à luz de um candeeiro de rua, este espectáculo brinca também com a imagem duplicada numa tela onde se projectam reproduções gravadas em vídeo. João Paulo Pereira dos Santos brinca com o seu duplo como Peter Pan brincava com a sua sombra. Matéria / Anti-matéria, o par que em física se anula mas que no palco se completam, deixando mesmo no espectador uma sensação de ambivalência e estranheza ao procurar qual é o real e qual é o virtual. O próprio artista do mastro se chega a sentir desalentado ao ver a sua imagem virtual realizar as suas próprias proezas. Desafio que ele agarra, lutando contra a sua própria projecção, vencendo a tela e assumindo-se como o único rei e senhor do mastro. A música também dialoga ora sob o formato acústico ora digital, deixando ao músico espaço de manobra para interagir com o artista do mastro de uma forma muito mais livre. Quarenta e cinco minutos de ilusões de óptica e de som, que contribuíram para uma reescrita da nossa lógica cartesiana. Afinal são os sentidos que nos estarão a enganar ou será a própria razão?
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