O Teatro Lliure e Teatro Español de Madrid em colaboração com Centre d’Arts Escèniques de Réus proporcionaram ao público português que se deslocou ao Teatro Municipal de Faro nos dias 24 e 25 de Março de 2006 uma homenagem a Shakespeare.
O que é um texto senão um pretexto para continuarmos a dizer tudo aquilo que achamos nosso dever continuar a dizer? Um texto, intemporal como os textos de Shakespeare continuam a ser os nossos pretextos para publicitarmos a revolta perante os sentimentos de injustiça que avassalam ainda hoje o mundo em que vivemos.
O espectáculo Ricardo III encenado por Alex Rigola trouxe à contemporaneidade o tema da insanidade e da violência patológica. Assassínios cometidos com motivo, sem motivo, com causas, sem causas, mas todos assasínios. Matam-se as pessoas que estão na linha de sucessão do trono ou as pessoas que estão na linha de sucessão do sucesso. Ricardo III era disforme e nunca teria podido desposar Lady Anne ou outra qualquer mulher se não se tivesse tornado um cruel assassino em série. A sua história e as relações de parentesco eram bastante complexas. Ricardo III foi o último Rei de Inglaterra da casa de York, entre 1483 e 1485. Era filho de Ricardo, Duque de York e Cecily Neville, sendo o irmão mais novo de Eduardo IV, Rei de Inglaterra e de George, Duque de Clarence.
A sua subida ao trono foi marcada pelo desaparecimento dos seus sobrinhos e iniciou uma revolta liderada por Henrique Tudor que provocou o fim da Guerra das Rosas. Ricardo nasceu no Castelo de Fotheringay, numa altura em que o seu pai, o Duque de York, se afirmava como figura alternativa a Henrique VI, um rei fraco e influenciável. Desta disputa iniciou-se a Guerra das Rosas. Os métodos pouco convencionais que Ricardo III usou para subir ao trono, bem como o desaparecimento dos seus sobrinhos, lançaram rumores de usurpação e reacenderam a Guerra das Rosas. Quase de imediato, estalou uma rebelião liderada por Henry Stafford, Duque de Buckingham, o seu antigo melhor amigo e aliado, que não tendo grandes hipóteses de aspirar à coroa por si, decidiu apoiar Henrique Tudor, Conde de Richmond. Ricardo III controlou esta ameaça e Buckingham foi executado em Salisbury em Novembro, mas Tudor já se encontrava a recrutar tropas em Gales. Em Agosto de 1485, Henrique Tudor e Ricardo III defrontaram-se na Batalha de Bosworth Field, que haveria de ser a última da guerra das rosas. Ricardo III perdeu o confronto graças à união dos seus inimigos e à deserção de uma parte importante do seu contingente, liderada pelo Lorde Stanley e o Conde de Northumberland. A sua morte nesta batalha abriu o caminho para a subida ao trono de Henrique VII e início da dinastia de Tudor. Segundo Shakespeare as suas últimas palavras foram: "A horse! My kingdom for a horse!"
Esta história foi uma história de reis mas a crueldade é transversal e atinge homens e mulheres de outras condições. Como o dono de um bar decadente, rodeado de mafiosos, mulheres de fama duvidosa, cocainómanos, sexualmente perversos e traficantes de armas. São estes os novos dados do poder, embora a ambição pelo amor de uma mulher bonita não se tenha alterado. A encenação de Alex Rigola transporta-nos a um universo misto entre Lynch e Almodôvar onde a decadência se impõe e reina um sub mundo onde tudo é possível.
No fim, à medida que os actores vão sendo assassinados vão voltando usando o figurino de Shakespeare, rendendo homenagem ao mestre, mostrado que o dramaturgo vive apesar dos oceanos de tempo que tem de atravessar.
Álex Rigola utiliza inúmeros subterfúgios como o recurso ao vídeo e à projecção em tempo real, aos bonecos manipulados, a uma banda de música para fazer os paralelos com a contemporaneidade. O que serão hoje os morangos do Bispo? Cocaína, certamente. E como se vestiria Lady Anne? E Shakespeare, se regressasse, que teria achado desta adaptação? Provavelmente sentir-se-ia honrado como cuidado, a pesquisa, o trabalho subjacente a este espectáculo. E teria apreciado o resultado final. Porque teve o efeito que ele procurou ao escrevê-la: inquietar-nos. Apiedarmo-nos das vítimas e temermos por nós. E pôr-nos a pensar sobre as tais questões essências relativas à educação. O que é que desejamos para a nossa sociedade? Mais Ricardos?
Foi pena a necessidade da tradução simultânea, pois com uma língua como o catalão é difícil concentrarmo-nos na palavra. Por isso, para nos mantermos fiéis ao texto, perdemos muitas movimentações que contribuíram necessariamente para uma apreciação global do espectáculo. Mas o desempenho fortíssimo dos actores, a fuga às convenções, a encenação arrojada, os figurinos adequados às personagens foram elementos mais que suficientes para podermos dizer que foi rendida uma apropriada homenagem a Shakespeare.
O que é um texto senão um pretexto para continuarmos a dizer tudo aquilo que achamos nosso dever continuar a dizer? Um texto, intemporal como os textos de Shakespeare continuam a ser os nossos pretextos para publicitarmos a revolta perante os sentimentos de injustiça que avassalam ainda hoje o mundo em que vivemos.
O espectáculo Ricardo III encenado por Alex Rigola trouxe à contemporaneidade o tema da insanidade e da violência patológica. Assassínios cometidos com motivo, sem motivo, com causas, sem causas, mas todos assasínios. Matam-se as pessoas que estão na linha de sucessão do trono ou as pessoas que estão na linha de sucessão do sucesso. Ricardo III era disforme e nunca teria podido desposar Lady Anne ou outra qualquer mulher se não se tivesse tornado um cruel assassino em série. A sua história e as relações de parentesco eram bastante complexas. Ricardo III foi o último Rei de Inglaterra da casa de York, entre 1483 e 1485. Era filho de Ricardo, Duque de York e Cecily Neville, sendo o irmão mais novo de Eduardo IV, Rei de Inglaterra e de George, Duque de Clarence.
A sua subida ao trono foi marcada pelo desaparecimento dos seus sobrinhos e iniciou uma revolta liderada por Henrique Tudor que provocou o fim da Guerra das Rosas. Ricardo nasceu no Castelo de Fotheringay, numa altura em que o seu pai, o Duque de York, se afirmava como figura alternativa a Henrique VI, um rei fraco e influenciável. Desta disputa iniciou-se a Guerra das Rosas. Os métodos pouco convencionais que Ricardo III usou para subir ao trono, bem como o desaparecimento dos seus sobrinhos, lançaram rumores de usurpação e reacenderam a Guerra das Rosas. Quase de imediato, estalou uma rebelião liderada por Henry Stafford, Duque de Buckingham, o seu antigo melhor amigo e aliado, que não tendo grandes hipóteses de aspirar à coroa por si, decidiu apoiar Henrique Tudor, Conde de Richmond. Ricardo III controlou esta ameaça e Buckingham foi executado em Salisbury em Novembro, mas Tudor já se encontrava a recrutar tropas em Gales. Em Agosto de 1485, Henrique Tudor e Ricardo III defrontaram-se na Batalha de Bosworth Field, que haveria de ser a última da guerra das rosas. Ricardo III perdeu o confronto graças à união dos seus inimigos e à deserção de uma parte importante do seu contingente, liderada pelo Lorde Stanley e o Conde de Northumberland. A sua morte nesta batalha abriu o caminho para a subida ao trono de Henrique VII e início da dinastia de Tudor. Segundo Shakespeare as suas últimas palavras foram: "A horse! My kingdom for a horse!"
Esta história foi uma história de reis mas a crueldade é transversal e atinge homens e mulheres de outras condições. Como o dono de um bar decadente, rodeado de mafiosos, mulheres de fama duvidosa, cocainómanos, sexualmente perversos e traficantes de armas. São estes os novos dados do poder, embora a ambição pelo amor de uma mulher bonita não se tenha alterado. A encenação de Alex Rigola transporta-nos a um universo misto entre Lynch e Almodôvar onde a decadência se impõe e reina um sub mundo onde tudo é possível.
No fim, à medida que os actores vão sendo assassinados vão voltando usando o figurino de Shakespeare, rendendo homenagem ao mestre, mostrado que o dramaturgo vive apesar dos oceanos de tempo que tem de atravessar.
Álex Rigola utiliza inúmeros subterfúgios como o recurso ao vídeo e à projecção em tempo real, aos bonecos manipulados, a uma banda de música para fazer os paralelos com a contemporaneidade. O que serão hoje os morangos do Bispo? Cocaína, certamente. E como se vestiria Lady Anne? E Shakespeare, se regressasse, que teria achado desta adaptação? Provavelmente sentir-se-ia honrado como cuidado, a pesquisa, o trabalho subjacente a este espectáculo. E teria apreciado o resultado final. Porque teve o efeito que ele procurou ao escrevê-la: inquietar-nos. Apiedarmo-nos das vítimas e temermos por nós. E pôr-nos a pensar sobre as tais questões essências relativas à educação. O que é que desejamos para a nossa sociedade? Mais Ricardos?
Foi pena a necessidade da tradução simultânea, pois com uma língua como o catalão é difícil concentrarmo-nos na palavra. Por isso, para nos mantermos fiéis ao texto, perdemos muitas movimentações que contribuíram necessariamente para uma apreciação global do espectáculo. Mas o desempenho fortíssimo dos actores, a fuga às convenções, a encenação arrojada, os figurinos adequados às personagens foram elementos mais que suficientes para podermos dizer que foi rendida uma apropriada homenagem a Shakespeare.
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