Dia 28 de Janeiro de 2006, no Instituto Português da Juventude, o Teatro Olimpo trouxe o espectáculo Curso Básico para uma Relação a Dois: uma adaptação de Casimiro Simões a partir de textos de L. Veríssimo. O espectador é advertido, logo à entrada da sala de espectáculo, uma vez que as senhoras recebem uma folha de sala diferente da dos homens. Na folha de sala dos homens pode ler-se: “Um homem, por mais mulheres que conheça, nunca chega a compreender nenhuma”. Na das mulheres dizia-se: “Uma mulher só precisa de conhecer um homem para compreender todos os homens.” Esta provocação provoca, naturalmente, alguma expectativa, quanto ao teor do espectáculo e essa expectativa não foi gorada. De uma forma simples mas eficaz os dois actores, Ni Fernandes e Casimiro Simões foram ao encontro de todas as idiossincrasias existentes nos casais e nas relações contemporâneas. Mudando de personagem como quem muda de roupa, os dois actores foram-nos apontando com humor inteligente os erros em que os seres humanos recorrentemente caem quando assumem uma relação a dois. Como diz L. Veríssimo, “Uma pessoa é uma coisa muito complicada. Mais complicado que uma pessoa, só duas! Ninguém é o que pensa que é, e muito menos o que diz que é. Precisamos da complicação para nos definirmos. E as pessoas só se definem no seu relacionamento com as outras. Ou seja: ninguém é nada sozinho. Somos o nosso comportamento com o outro. Principalmente com aquela versão extrema do outro, que é o outro de outro sexo!” Dentro da complicação que somos nós, em conjunto ou em separado, Casimiro Simões adaptou os textos de L. Veríssimo Comédia Para se Ler na Escola, Sexo na Cabeça e O Melhor das Comédias da Vida Privada, trabalhando-os dramaturgicamente de forma a construir o espectáculo Curso Básico para uma Relação a Dois.
A banda sonora escolhida retirada de temas do grupo dos anos 80 Doce, tem como função preencher os hiatos criados pelas mudanças de personagem, de forma a manter-se o ritmo do espectáculo, mas por vezes é retirada abruptamente. Poderia, talvez ter sido mais aproveitada na cena. Os dois actores, por entre a música, mostram-nos múltiplas formas de se viver um relacionamento a dois. Por vezes a contra-cena é esquecida, ficando o texto um pouco viciado no formato de monólogo divertido, mas quando os actores interagem, conseguem-se momentos de teatro muito especiais. O grupo apostou numa cenografia simples, à base de manequins formados por silhuetas onde se depunham os figurinos/adereços para as várias personagens. Uma cama construída sobre rodas que se desfaz ao primeiro amuo. Banco que deslizam e contentores que recebem as roupas das personagens que se desfazem. Com ritmo, com corporalidade, quase se diria que tinha sido um espectáculo conseguido, se não tivessem sido as expressões faciais demasiado artificiais de Ni Fernandes. No palco tudo fica exposto em evidência. Por isso, quanto mais natural, mais verdadeiro. A partir do momento em que se exagera esbugalhando os olhos, franzindo a testa ou crispando os lábios com demasiado esforço, deixa de se acreditar na personagem, ficando apenas com o boneco.
O texto de L. Veríssimo mostra-nos várias situações de como o amor começa. Às vezes, bastam uns cabelos a balouçar na nudez de uma nuca para sentir algo de especial por aquela pessoas que está à nossa frente. Ou então, uma atitude inesperada, como o levar de um saco de plástico para que as roupas não se misturem com as de desconhecidos numa qualquer festa onde o jogo é tirar a roupa. Insólito, pode dizer-se que o amor começa de qualquer maneira, quando menos se está à espera. Se calhar, por que interiormente se está à espera. Mas… e por que é que o amor acaba? Essa foi a resposta a que, apesar de algumas propostas humorísticas de L. Veríssimo, o texto não nos soube responder. Há um esquecimento de uma data importante, uma frase que não se consegue ouvir, uma cláusula do contrato de casamento que não foi respeitada mas… qual é a razão para o facto de não se sentir nada quando se olha para o outro? Talvez demasiado inconclusivo para um texto que nos dá tantas pistas sobre as relações a dois. Acaba… porque sim? Será inevitável? Mesmo quando não há um terceiro elemento? E para o amor não acabar? Será que não há mesmo livro de instruções? Então para que nos dão um curso? Talvez este espectáculo se devesse chamar Curso básico para uma relação a dois – Parte I. O começo. E quando o Amor acaba, será que pode voltar? As respostas possíveis poderão vir na Parte II do curso. Esperemos, pois, que o Teatro Olimpo, de Ansião, volte, mais amadurecido, com a segunda parte do texto. E, se possível, com a mesma frescura.
A banda sonora escolhida retirada de temas do grupo dos anos 80 Doce, tem como função preencher os hiatos criados pelas mudanças de personagem, de forma a manter-se o ritmo do espectáculo, mas por vezes é retirada abruptamente. Poderia, talvez ter sido mais aproveitada na cena. Os dois actores, por entre a música, mostram-nos múltiplas formas de se viver um relacionamento a dois. Por vezes a contra-cena é esquecida, ficando o texto um pouco viciado no formato de monólogo divertido, mas quando os actores interagem, conseguem-se momentos de teatro muito especiais. O grupo apostou numa cenografia simples, à base de manequins formados por silhuetas onde se depunham os figurinos/adereços para as várias personagens. Uma cama construída sobre rodas que se desfaz ao primeiro amuo. Banco que deslizam e contentores que recebem as roupas das personagens que se desfazem. Com ritmo, com corporalidade, quase se diria que tinha sido um espectáculo conseguido, se não tivessem sido as expressões faciais demasiado artificiais de Ni Fernandes. No palco tudo fica exposto em evidência. Por isso, quanto mais natural, mais verdadeiro. A partir do momento em que se exagera esbugalhando os olhos, franzindo a testa ou crispando os lábios com demasiado esforço, deixa de se acreditar na personagem, ficando apenas com o boneco.
O texto de L. Veríssimo mostra-nos várias situações de como o amor começa. Às vezes, bastam uns cabelos a balouçar na nudez de uma nuca para sentir algo de especial por aquela pessoas que está à nossa frente. Ou então, uma atitude inesperada, como o levar de um saco de plástico para que as roupas não se misturem com as de desconhecidos numa qualquer festa onde o jogo é tirar a roupa. Insólito, pode dizer-se que o amor começa de qualquer maneira, quando menos se está à espera. Se calhar, por que interiormente se está à espera. Mas… e por que é que o amor acaba? Essa foi a resposta a que, apesar de algumas propostas humorísticas de L. Veríssimo, o texto não nos soube responder. Há um esquecimento de uma data importante, uma frase que não se consegue ouvir, uma cláusula do contrato de casamento que não foi respeitada mas… qual é a razão para o facto de não se sentir nada quando se olha para o outro? Talvez demasiado inconclusivo para um texto que nos dá tantas pistas sobre as relações a dois. Acaba… porque sim? Será inevitável? Mesmo quando não há um terceiro elemento? E para o amor não acabar? Será que não há mesmo livro de instruções? Então para que nos dão um curso? Talvez este espectáculo se devesse chamar Curso básico para uma relação a dois – Parte I. O começo. E quando o Amor acaba, será que pode voltar? As respostas possíveis poderão vir na Parte II do curso. Esperemos, pois, que o Teatro Olimpo, de Ansião, volte, mais amadurecido, com a segunda parte do texto. E, se possível, com a mesma frescura.
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