Dia 15 voltámos, desta vez a Vila Real de Santo António. Estavam anunciados dois espectáculos; Vistas, de Florência Olivieri e Cuadrado negro sobre fondo negro, de Rodrigo Pardo, ambos originários da Argentina. Mais uma vez a ironia, mais uma vez o tango revisitado, tornando-se algo mais que gerador de tensões entre um casal, com uma corporalidade que procura reinventar a linguagem do tango. Na primeira coreografia Florência Olivieri põe os bailarinos a dançar um com o outro na horizontal sugerindo, como diz a coreógrafa, a multiplicidade de pontos de vista, mostradas como que num caleidoscópio de figuras por descobrir. O bandoneón tocado ao vivo por Alejandro Pérez deu à peça o colorido que ela pedia, imersa que estava no cinzento e negro dos bailarinos. Aqui vimos dois corpos construindo figuras dentro de uma geometria no espaço, transformando o movimento em formas animadas que procuram a completude. Um bom trabalho de corpo dentro de uma excelente coreografia.
O segundo espectáculo apresenta o tango argentino de uma forma crua e quase violenta, como a técnica do contact . Utilizando uma fita adesiva que vão colando no chão, um casal vai impondo limites a si próprios, à sua vida. Os limites marcam os encontros e os desencontros. E tal como a canção daquele outro cantor a Sul, Chico Buarque, nós vemos a bailarina a despir as calças do quotidiano vulgar para construir o extraordinário. Vêmo-la então a vestir o tal vestido “cheirando a guardado de tanto esperar” e que irá dar alimento e novo alento ao quotidiano marcado por abraços que por vezes se instalam como muros na vida do casal. E aí os vemos a dançar o tango como só os argentinos o sabem, naquele pequeno pedaço do quotidiano que de repente se tornou extraordinário. Uma reinvenção do mundo, do amor, com várias lições sobre a arte do abraço. Mesmo quando, inadvertidamente, se cai nos braços de um desconhecido e ele nos pergunta: “Você está bem? Apetece-lhe um café?” a vida, às vezes, é assim. Com algumas quedas acidentais somos amparados por desconhecidos providenciais. E a vida recomeça. Como nos ensaios, repetimos, aperfeiçoamos. E limpamos aquilo que há para limpar, como quando o casal começa a retirar as fitas adesivas do chão, libertando-se dos limites sufocantes que a si mesmos impuseram. Um exemplo a seguir, no palco e na vida.
O segundo espectáculo apresenta o tango argentino de uma forma crua e quase violenta, como a técnica do contact . Utilizando uma fita adesiva que vão colando no chão, um casal vai impondo limites a si próprios, à sua vida. Os limites marcam os encontros e os desencontros. E tal como a canção daquele outro cantor a Sul, Chico Buarque, nós vemos a bailarina a despir as calças do quotidiano vulgar para construir o extraordinário. Vêmo-la então a vestir o tal vestido “cheirando a guardado de tanto esperar” e que irá dar alimento e novo alento ao quotidiano marcado por abraços que por vezes se instalam como muros na vida do casal. E aí os vemos a dançar o tango como só os argentinos o sabem, naquele pequeno pedaço do quotidiano que de repente se tornou extraordinário. Uma reinvenção do mundo, do amor, com várias lições sobre a arte do abraço. Mesmo quando, inadvertidamente, se cai nos braços de um desconhecido e ele nos pergunta: “Você está bem? Apetece-lhe um café?” a vida, às vezes, é assim. Com algumas quedas acidentais somos amparados por desconhecidos providenciais. E a vida recomeça. Como nos ensaios, repetimos, aperfeiçoamos. E limpamos aquilo que há para limpar, como quando o casal começa a retirar as fitas adesivas do chão, libertando-se dos limites sufocantes que a si mesmos impuseram. Um exemplo a seguir, no palco e na vida.
No comments:
Post a Comment