Pedro e Inês, o bailado coreografado por Olga Roriz, foi a peça escolhida no âmbito de Faro Capital Nacional da Cultura para servir de cartão de visita aos ministros da cultura e organizações internacionais que integraram a Convenção Cultural Europeia ocorrida em Vale do Lobo nos dias 27 e 28 de Outubro. Numa conferência em que se discutiu o papel da cultura como força interveniente para a luta contra o racismo, a intolerância, a xenofobia e a islamofobia, esta obra maior da dança contemporânea portuguesa conseguiu mostrar a força do corpo e da música, expressando um amor universal.
Pedro e Inês pertence ao imaginário português, revelando uma história de amor mais violenta que a mundialmente conhecida Romeu e Julieta. Razões de Estado que se impõem às escolhas pessoais e causam danos em duas pessoas que se amam têm ficado na história, mas nenhuma como a história de Pedro o Cru e de Inês de Castro, a mais reescrita ao longo dos tempos, talvez pela implementação do mito da coroação após a morte de Inês. A proposta de Olga Roriz não só é surpreendente como arrebatadora, pela incursão dos elementos naturais com a força dos sentimentos fortes como a paixão, a dor, a impiedade, a culpa, a vingança. A obra começa com Inês dançando fragmentada em vários pedaços de si, não só no plano real mas também no plano onírico, em que se vê reflectida no espelho de água da fonte dos amores que brota incessantemente. Afonso IV, urdindo o crime ilibado pela coroa, move-se num espaço restrito e limitado, como limitadas são as suas leis e a sua capacidade de amar. Os carrascos entram e Inês é morta brutalmente, num acto que se repete cruelmente em todas as dimensões e identidades fragmentárias de Inês. Pedro, enlouquecido pela dor, viga-se e exibe a famosa cena em que morde o coração de um dos traidores, também numa multiplicação da personagem, desta vez não de fragmentação da identidade mas fruto do sucessivo desejo de vingança. Essa expiação dá origem às memórias dos tempos de felicidade em que os amantes se entregavam ao prazer, dando azo às suas mais diversas fantasias na fonte dos amantes. O verde, bosque sensual de que faz parte Inês, é presente na água onde os amantes cedem aos apelos dos sentidos. As memórias dão lugar ao presente enlutado e a uma caminhada cheia de ódios e vinganças. Pedro desenterra Inês e, numa tentativa de recuperar a felicidade passada, dança com ela morta, como se lhe pudesse insuflar o ânimo que devolve a vida. Resignado, faz dela a sua rainha, coroando-a e obrigando o povo a prestar-lhe a homenagem devida. No lago onde foi feliz com Inês, repousa, enfim, ao seu lado. Esta história, sobre a intolerância e a crueldade é também uma mensagem sobre o amor voluptuoso que se tornou imortal. O olhar poético de Olga Roriz, a música de Arvo Part a iluminação belíssima de Cristina Piedade e a depurada cenografia de João Mendes Ribeiro tornaram esta obra em algo de sublime, na acepção Kantiana do termo.
Pedro e Inês pertence ao imaginário português, revelando uma história de amor mais violenta que a mundialmente conhecida Romeu e Julieta. Razões de Estado que se impõem às escolhas pessoais e causam danos em duas pessoas que se amam têm ficado na história, mas nenhuma como a história de Pedro o Cru e de Inês de Castro, a mais reescrita ao longo dos tempos, talvez pela implementação do mito da coroação após a morte de Inês. A proposta de Olga Roriz não só é surpreendente como arrebatadora, pela incursão dos elementos naturais com a força dos sentimentos fortes como a paixão, a dor, a impiedade, a culpa, a vingança. A obra começa com Inês dançando fragmentada em vários pedaços de si, não só no plano real mas também no plano onírico, em que se vê reflectida no espelho de água da fonte dos amores que brota incessantemente. Afonso IV, urdindo o crime ilibado pela coroa, move-se num espaço restrito e limitado, como limitadas são as suas leis e a sua capacidade de amar. Os carrascos entram e Inês é morta brutalmente, num acto que se repete cruelmente em todas as dimensões e identidades fragmentárias de Inês. Pedro, enlouquecido pela dor, viga-se e exibe a famosa cena em que morde o coração de um dos traidores, também numa multiplicação da personagem, desta vez não de fragmentação da identidade mas fruto do sucessivo desejo de vingança. Essa expiação dá origem às memórias dos tempos de felicidade em que os amantes se entregavam ao prazer, dando azo às suas mais diversas fantasias na fonte dos amantes. O verde, bosque sensual de que faz parte Inês, é presente na água onde os amantes cedem aos apelos dos sentidos. As memórias dão lugar ao presente enlutado e a uma caminhada cheia de ódios e vinganças. Pedro desenterra Inês e, numa tentativa de recuperar a felicidade passada, dança com ela morta, como se lhe pudesse insuflar o ânimo que devolve a vida. Resignado, faz dela a sua rainha, coroando-a e obrigando o povo a prestar-lhe a homenagem devida. No lago onde foi feliz com Inês, repousa, enfim, ao seu lado. Esta história, sobre a intolerância e a crueldade é também uma mensagem sobre o amor voluptuoso que se tornou imortal. O olhar poético de Olga Roriz, a música de Arvo Part a iluminação belíssima de Cristina Piedade e a depurada cenografia de João Mendes Ribeiro tornaram esta obra em algo de sublime, na acepção Kantiana do termo.
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