Em Março os municípios do Algarve que têm uma estrutura adequada à prática das várias vertentes da arte dramática vão rendendo homenagem ao Teatro. O que é estranho é que em tempos de capital de cultura não haja uma verdadeira homenagem prestada ao teatro pelo município de Faro. Para onde se mudou a capital da cultura?
Com Março a romper os calendários são inúmeros os eventos que se marcam nas agendas para ir ao teatro. O dia 4 trouxe-nos a Lagos uma produção da Companhia Portuguesa de Comédia denominada “Um Pijama Para Seis”, de Marc Camolleti. Para quem gosta dos temas de comédia de enganos em que os maridos traem as mulheres, as mulheres os maridos e todos fingem que estão no melhor dos mundos possíveis, este espectáculo cumpre o seu objectivo. O texto, apesar de não ser brilhante, faz o espectador mais sisudo soltar uma ou duas gargalhadas. Tem ritmo e tem a coscuvilhice dos folhetins das revistas cor-de-rosa, apaladada pelas caras conhecidas dos actores que costumam trabalhar em televisão. Para lá do mau gosto de por um actor branco a fazer de jardineiro negro, exagerando no sotaque, na cabeleira e no ritmo do pensamento, para além do cenário feito às três pancadas e de algumas piadas forçadas da mulher-a-dias (saltitando alegremente pela “casa de campi” qual Marilú dos anos 80 televisivos) de uns excêntricos patrões, “ Um Pijama para Seis” é um espectáculo em que os actores nos dão um humor com a naturalidade e o conforto de quem já priva com os palcos há várias dezenas de anos.
Relativamente a este tipo de receita dramatúrgica não há muito a dizer. A luz é sempre geral, como se os actores estivessem sempre num aquário. O texto é sempre banal, como se todas as relações entre os seres humanos fossem enganosas e fúteis. Os actores, iguais a si mesmos, aqui no palco ou em qualquer novela de televisão. Digamos que este tipo de produção não acrescenta muito ao teatro, porque não exige um esforço de personagem muito profundo. Para além de uns beijos na boca algo prolongados, não se vê os actores a fazerem um esforço de maior na interpretação das suas personagens. Uma opção que entretém, pondo-nos pelo menos a pensar: porque é que aquela gente que foi para um fim-de-semana descontraído numa casa de campo veste traje de gala para jantar? Mas incongruências à parte, o que é certo é que dentro do género de comédia desinfectadinha sobre infidelidades conjugais esta produção cumpre os seus objectivos: o de uma identificação latente com o desejo de transgredir num contexto social em que é difícil viver. De facto, Um pijama para seis pode não ter empolgado a audiência do Centro Cultural de Lagos. Mas decerto divertiu o público com a cabotinice do marido, a artificialidade da mulher, a falta de chá da criada, as pernas da jovem e promissora actriz amante do marido e a naturalidade de Tozé Martinho.
Esta produção continuará pelo Algarve, repetindo no dia 17 em Quarteira e dia 18 em Loulé.
Mas nem só de comédias de enganos e de costumes vive o teatro. E de barlavento a sotavento este mês é fértil em espectáculos de teatro. Lagos brinda-nos com 7 espectáculos de teatro e uma conferência sobre teatro ao longo deste mês, Lagoa igualmente com 7 espectáculos e uma formação de luxo orientada por Helena Flor (A dramaturgia do texto e o movimento do texto). Vila Real de Santo António oferece-nos 10 espectáculos, contando com as produções para o público infanto-juvenil e Loulé com nove espectáculos de teatro ao longo do mês, para além de uma formação teatral. O teatro está em festa um pouco por todo o Algarve. A Escola Superior de Educação da Universidade do Algarve promove também algumas iniciativas ligadas ao teatro para a infância, contando com Workshops, colóquios, tertúlias em torno do papel da escola na cultura. Curiosamente, quando chegamos a Faro, encontramos dois espectáculos de teatro no emblemático Lethes e não há notícia de coisa alguma dia 27. Como os agentes culturais regionais que propuseram produções para o evento Faro Capital da Cultura nem sequer foram ouvidos é caso para perguntar: para onde se mudou a capital da cultura? Para longe, muito longe de Faro. E de onde são os artistas que vêm para abrilhantar o evento? De longe, de muito longe de Faro. E será que é porque Faro não tem gente à altura? Não. É porque neste, e noutros filmes semelhantes, prendem-se sempre os suspeitos do costume.
Com Março a romper os calendários são inúmeros os eventos que se marcam nas agendas para ir ao teatro. O dia 4 trouxe-nos a Lagos uma produção da Companhia Portuguesa de Comédia denominada “Um Pijama Para Seis”, de Marc Camolleti. Para quem gosta dos temas de comédia de enganos em que os maridos traem as mulheres, as mulheres os maridos e todos fingem que estão no melhor dos mundos possíveis, este espectáculo cumpre o seu objectivo. O texto, apesar de não ser brilhante, faz o espectador mais sisudo soltar uma ou duas gargalhadas. Tem ritmo e tem a coscuvilhice dos folhetins das revistas cor-de-rosa, apaladada pelas caras conhecidas dos actores que costumam trabalhar em televisão. Para lá do mau gosto de por um actor branco a fazer de jardineiro negro, exagerando no sotaque, na cabeleira e no ritmo do pensamento, para além do cenário feito às três pancadas e de algumas piadas forçadas da mulher-a-dias (saltitando alegremente pela “casa de campi” qual Marilú dos anos 80 televisivos) de uns excêntricos patrões, “ Um Pijama para Seis” é um espectáculo em que os actores nos dão um humor com a naturalidade e o conforto de quem já priva com os palcos há várias dezenas de anos.
Relativamente a este tipo de receita dramatúrgica não há muito a dizer. A luz é sempre geral, como se os actores estivessem sempre num aquário. O texto é sempre banal, como se todas as relações entre os seres humanos fossem enganosas e fúteis. Os actores, iguais a si mesmos, aqui no palco ou em qualquer novela de televisão. Digamos que este tipo de produção não acrescenta muito ao teatro, porque não exige um esforço de personagem muito profundo. Para além de uns beijos na boca algo prolongados, não se vê os actores a fazerem um esforço de maior na interpretação das suas personagens. Uma opção que entretém, pondo-nos pelo menos a pensar: porque é que aquela gente que foi para um fim-de-semana descontraído numa casa de campo veste traje de gala para jantar? Mas incongruências à parte, o que é certo é que dentro do género de comédia desinfectadinha sobre infidelidades conjugais esta produção cumpre os seus objectivos: o de uma identificação latente com o desejo de transgredir num contexto social em que é difícil viver. De facto, Um pijama para seis pode não ter empolgado a audiência do Centro Cultural de Lagos. Mas decerto divertiu o público com a cabotinice do marido, a artificialidade da mulher, a falta de chá da criada, as pernas da jovem e promissora actriz amante do marido e a naturalidade de Tozé Martinho.
Esta produção continuará pelo Algarve, repetindo no dia 17 em Quarteira e dia 18 em Loulé.
Mas nem só de comédias de enganos e de costumes vive o teatro. E de barlavento a sotavento este mês é fértil em espectáculos de teatro. Lagos brinda-nos com 7 espectáculos de teatro e uma conferência sobre teatro ao longo deste mês, Lagoa igualmente com 7 espectáculos e uma formação de luxo orientada por Helena Flor (A dramaturgia do texto e o movimento do texto). Vila Real de Santo António oferece-nos 10 espectáculos, contando com as produções para o público infanto-juvenil e Loulé com nove espectáculos de teatro ao longo do mês, para além de uma formação teatral. O teatro está em festa um pouco por todo o Algarve. A Escola Superior de Educação da Universidade do Algarve promove também algumas iniciativas ligadas ao teatro para a infância, contando com Workshops, colóquios, tertúlias em torno do papel da escola na cultura. Curiosamente, quando chegamos a Faro, encontramos dois espectáculos de teatro no emblemático Lethes e não há notícia de coisa alguma dia 27. Como os agentes culturais regionais que propuseram produções para o evento Faro Capital da Cultura nem sequer foram ouvidos é caso para perguntar: para onde se mudou a capital da cultura? Para longe, muito longe de Faro. E de onde são os artistas que vêm para abrilhantar o evento? De longe, de muito longe de Faro. E será que é porque Faro não tem gente à altura? Não. É porque neste, e noutros filmes semelhantes, prendem-se sempre os suspeitos do costume.
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