Friday, August 17, 2007

Gift celebrando a liberdade

Há bandas que marcam uma década no contexto do seu país. No caso português podemos pensar nos Madredeus para os anos 80, os Xutos e pontapés nos anos 90 e, sem dúvida que os The Gift é a banda que vai marcar a primeira década do III milénio. Nascida em 1994 captaram as sonoridades dos Radiohead, dos Portishead, de David Bowie, como por exemplo no tema Ok Do you wanna something simple, e conseguiram dar um toque de classe à música com sonoridades electrónicas que entretanto se ia fazendo.
Quem tem acompanhado o percurso da banda de Alcobaça, desde os primeiros tempos até hoje, não pode deixar de sentir uma grande satisfação pelo projecto de qualidade que a banda merecidamente alcançou. Desde Digital Atmosphere, gravado em casa e sem edição comercial no fim dos anos 90, até ao super produzido Fácil de Entender a banda foi tecendo as malhas do seu sucesso, apostando sempre na qualidade. Curiosamente foi depois de terem alcançado a sua internacionalização que apostaram num tema em português que rapidamente virou um hino entre os seus admiradores.
O concerto de dia 25 de Abril é característico dessa adesão em massa do público de todas as idades. Já não se via, como em Paredes de Coura o público ser atraído aos poucos pela sonoridade inovadora e bela do grupo. Pelo contrário, o público procurou o seu lugar antecipadamente para poder estar próximo da sua banda de eleição.
Do concerto no teatro das Figuras não posso falar, uma vez que a ele não pude assistir como profissional. Posso falar do concerto que me agarrou ao rádio, em directo dos claustros do mosteiro de Alcobaça, posso falar de Coimbra em 2004: explosivo, com a qualidade a crescer. Talvez o concerto do Teatro das Figuras tenha sido mais sofisticado, a avaliar pelo vestido de Sónia Tavares e da cenografia. Mas o concerto havido na praça da Pontinha foi o que se pode considerar poderoso. Sandra Tavares está em grande forma, retira prazer do seu trabalho e tem uma bateria de músicos de qualidade a acompanhá-la. O profissionalismo a força, a empatia sentida entre os elementos da banda e a banda e o público fizeram deste concerto um marco que ficará certamente na memória dos farenses. Apesar do obstáculo da língua a comunicação aconteceu e o público que enchia a praça da Pontinha pulou e vibrou ao som da banda que se arrisca a ser a banda portuguesa de referência desta década. E de muitas outras, esperemos.
Sónia Tavares assumiu a cumplicidade com o público devolvendo-lhe a beleza que dela irradiava. Este concerto teve, para além da formação original, acompanhamento de um coral de seis vozes femininas e uma harpa.
E até se torna fácil de entender a ascenção desta banda. Um bocadinho de sonho, uma pitada de magia, talento e energia em doses generosas foi a receita que esta banda trouxe ao largo da Pontinha a Faro. Não sei como será a versão no espaço fechado, mas que este foi um belo presente aos munícipes de Faro, lá isso foi.

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