Paulo Moreira, um dos mais prestigiados encenadores do Algarve aceitou partilhar algumas reflexões sobre a sua encenação do texto de Álamo de Oliveira: A Solidão da casa do Regalo.
AO -Como surgiu a ideia de encenar este texto?
PM - Conhecia este texto já há muito, e o que nele me interessou desde logo foi o facto de ter personagens muito complexas em situação de conflito interior e de conflito com o outro. Fiquei marcado pela escrita de Álamo de Oliveira através da sua peça Até Hoje, e quando li este texto não me desiludi, continuei a gostar deste tipo de escrita.
Propus na ACTA a sua encenação e foi aceite, o que me deixou muito satisfeito.
AO -Qual a outra História de Afonso VI que, como encenador, quiseste valorizar?
PM -Em momento nenhum do espectáculo o Rei é nomeado. É um rei que não está na história porque não merece estar. Não é uma preocupação minha fazer uma peça histórica. Tinha na memória o quarto prisão do palácio de Sintra, que tinha visitado em criança e a peça é sobre a prisão do Rei em Angra do Heroísmo, que é uma situação idêntica. Este foi o rei do paradoxo. Toda a sua vida foi um paradoxo, em que foi odiado por todos, não se pautava por valores como a nobreza, a honra, a justiça, e ficou conhecido para a história como O Vitorioso. É também um pouco esse paradoxo que foi a sua vida que me interessou aprofundar.
O drama político de Afonso VI, que foi extremamente complexo, é realçado no preâmbulo pelas influências estrangeiras; a voz francesa e a música do compositor da corte inglesa.
É um drama da condição humana, mais do que a história de um rei.
AO -Qual o papel do pagem no desenvolvimento do espectáculo?
PM - É o discurso do homem lúcido mas não emocionalmente frio. Joga um papel de contraste com o Rei, que oscila entre momentos de loucura e de extrema lucidez filosófica. No pagem há uma consciência do absurdo.
AO -Quais as opções estéticas do espectáculo?
PM - Neste espectáculo quis fazer uma montagem teatral ao invés de uma desmontagem. De início entram os actores que se estão a preparar para representar uma peça, da qual já não saem. Do ponto de vista estético, quero mostrar ao público que estão a ver teatro. Não é um espectáculo realista/naturalista, embora se pretenda uma interpretação que emocione o espectador, ao mesmo tempo que reflecte sobre a existência humana. É sobretudo um espectáculo sobre a existência humana, portanto actual.
O espectáculo não tem propriamente música mas começa com uma música de Henry Purcell, compositor da corte de Carlos II e sua esposa Catarina de Bragança, irmã de Afonso VI, a tal que levou o chá para Inglaterra
AO -A que público se dirige?
PM - Não é um espectáculo elitista. Dirige-se ao público em geral.
AO - Podes falar sobre as linhas de força do espectáculo?
PM - Há um conceito que está subjacente à cenografia, que é o conceito de prisão. Afonso VI foi um homem feito prisioneiro não só no sentido literal, mas sobretudo psicologicamente. Era prisioneiro dos seus prazeres carnais, da sua demência, da sua educação, da sua incapacidade física e mental.
PM - Conhecia este texto já há muito, e o que nele me interessou desde logo foi o facto de ter personagens muito complexas em situação de conflito interior e de conflito com o outro. Fiquei marcado pela escrita de Álamo de Oliveira através da sua peça Até Hoje, e quando li este texto não me desiludi, continuei a gostar deste tipo de escrita.
Propus na ACTA a sua encenação e foi aceite, o que me deixou muito satisfeito.
AO -Qual a outra História de Afonso VI que, como encenador, quiseste valorizar?
PM -Em momento nenhum do espectáculo o Rei é nomeado. É um rei que não está na história porque não merece estar. Não é uma preocupação minha fazer uma peça histórica. Tinha na memória o quarto prisão do palácio de Sintra, que tinha visitado em criança e a peça é sobre a prisão do Rei em Angra do Heroísmo, que é uma situação idêntica. Este foi o rei do paradoxo. Toda a sua vida foi um paradoxo, em que foi odiado por todos, não se pautava por valores como a nobreza, a honra, a justiça, e ficou conhecido para a história como O Vitorioso. É também um pouco esse paradoxo que foi a sua vida que me interessou aprofundar.
O drama político de Afonso VI, que foi extremamente complexo, é realçado no preâmbulo pelas influências estrangeiras; a voz francesa e a música do compositor da corte inglesa.
É um drama da condição humana, mais do que a história de um rei.
AO -Qual o papel do pagem no desenvolvimento do espectáculo?
PM - É o discurso do homem lúcido mas não emocionalmente frio. Joga um papel de contraste com o Rei, que oscila entre momentos de loucura e de extrema lucidez filosófica. No pagem há uma consciência do absurdo.
AO -Quais as opções estéticas do espectáculo?
PM - Neste espectáculo quis fazer uma montagem teatral ao invés de uma desmontagem. De início entram os actores que se estão a preparar para representar uma peça, da qual já não saem. Do ponto de vista estético, quero mostrar ao público que estão a ver teatro. Não é um espectáculo realista/naturalista, embora se pretenda uma interpretação que emocione o espectador, ao mesmo tempo que reflecte sobre a existência humana. É sobretudo um espectáculo sobre a existência humana, portanto actual.
O espectáculo não tem propriamente música mas começa com uma música de Henry Purcell, compositor da corte de Carlos II e sua esposa Catarina de Bragança, irmã de Afonso VI, a tal que levou o chá para Inglaterra
AO -A que público se dirige?
PM - Não é um espectáculo elitista. Dirige-se ao público em geral.
AO - Podes falar sobre as linhas de força do espectáculo?
PM - Há um conceito que está subjacente à cenografia, que é o conceito de prisão. Afonso VI foi um homem feito prisioneiro não só no sentido literal, mas sobretudo psicologicamente. Era prisioneiro dos seus prazeres carnais, da sua demência, da sua educação, da sua incapacidade física e mental.
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