O espectáculo O Empresário, a partir da obra Der Schauspieldirektor, de Mozart, foi levado à cena três dias seguidos em três cidades algarvias. Este espectáculo, da responsabilidade conjunta da Orquestra do Algarve e da ACTA, assume-se como um espectáculo para as famílias onde a música se encontra com o teatro.
A Orquestra do Algarve e A Companhia de Teatro do Algarve, em associação com o Ópera Estúdio de Lisboa levaram a cena o espectáculo O Empresário, a partir da semi ópera de Mozart Der Schauspieldirektor. A encenação, tradução e dramaturgia estiveram a cargo de Paulo Matos que, com a maestria de um encenador experiente adaptou de forma exemplar o texto de Mozart à realidade contemporânea portuguesa. Os problemas de financiamento das companhias de teatro, a discussão sobre os critérios de qualidade, as cedências a que alguns directores se têm de sujeitar para poderem manter as suas companhias e poderem pagar os salários aos seus actores foram apontados com exactidão, expondo a nu os dramas diários de quem fez sua a profissão de actor.
Luis Vicente apresenta os seus dramas diários num registo sentido e quase comovente. Com o financiamento aceite, começam os malabarismos para se cumprirem todas as exigências do Ministério da Cultura e que, parecendo texto de comédia, de tão absurdas que são, na verdade, são bem reais.
Começa a preparação para o espectáculo com a elaboração do Casting, a que não são alheias todas as discussões inerentes à qualidade que se exige de um actor ou de um cantor, alimentadas pelos assistentes do director da Companhia, João Jonas e Afonso Dias. Os músicos aparecem, vindos do público, para se sujeitarem às audições, submetendo-se de imediato às instruções do maestro. O Casting começa e irrompe voluptuosa e sensual Elisabete Martins, interpretando uma actriz medíocre que se vale da sua ligação com um empresário para conseguir um papel de relevo na companhia. Interpreta Frei Luis de Sousa de forma histriónica e o poder do cheque faz com que ela seja aceite na companhia. Elisabete Martins expõe a sua graça natural neste papel, soltando-se e divertindo a plateia. O empresário Azevedo, interpretado por Luis Miranda também faz as delícias da assistência, com o seu ar assustado e submisso perante a sua insidiosa amante. Tânia Silva está muito consistente na jovem estudante de teatro que interpreta um grande texto clássico, com a sua candura que se transforma em força ao soltar o monólogo da Medeia.
Pelo seu lado, o maestro também parece sucumbir aos encantos de uma cantora que exige para si o papel de prima donna, interpretada por Lara Martins. Quando a cantora é confrontada com outra candidata igualmente virtuosa, Carla Caramujo, há uma disputa entre as duas candidatas a prima donna e acontece um fantástico duelo que tem por base a área da Rainha da Noite, da Flauta Mágica, de Mozart.
Não faltou a homenagem à Revista à Portuguesa pela mão de Glória Fernandes, divertida e solta num dos mais ousados textos levados a palco. Hilariante a reconstrução do clássico português O Costa do Castelo, na cena em que os jovens apaixonados, já envelhecidos, se reconhecem. Fernando Guimarães, para além da voz poderosa que mostrou revelou-se um actor de comédia bastante convincente.
A orquestra encantou nos pequenos trechos musicais que executou e os cantores brindaram os espectadores com as suas vozes de excelência.
Os figurinos de Rafaela Mapril dão ao espectáculo a dignidade que ele merece. Adequadíssimos, fazendo elevar a personagem de dentro do actor. A cenografia de Tó Quintas evoca o ambiente maçónico que se vivia na época de Mozart. A luz de Vasco Mósa realçou, no caso de Loulé, as arcadas do claustro da cerca do castelo onde o espectáculo decorreu. E nem o vento que se fez sentir distraiu o espectador do que era fundamental: o espectáculo.
Os quarenta e dois intervenientes, entre cantores, actores e músicos, contribuíram para que os espectadores regressassem a suas casas mais ricos, mais reconciliados com a vida, não deixando de lado o convite à reflexão.
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