Entrar na vastíssima casa que já foi Fábrica da Cerveja e percorrer os seus labirínticos corredores é sempre uma sensação gratificante. Não tanto pelas obras e instalações que por lá se encontram – umas francamente boas, outras apenas interessantes e outras inqualificáveis – mas pela ideia que lhe deu forma. Transformar uma antiga fábrica desabitada num lugar onde as artes se encontram. Um conceito muito em voga nos anos 80 em Lisboa, recordemo-nos de Alcântara-mar, discoteca surgida da Tipografia Motivo, parece ter chegado finalmente a Faro. E é sonhando que se vai devolver a cultura aos artistas plásticos que se vai percorrendo as dezenas de salas da Casa Amarela. Desta vez, sob o signo do Tractor, instrumento capaz de arrastar o público e revolver o solo, por forma a prepará-lo para um bom cultivo, a antiga Fábrica da Cerveja foi palco de múltiplos suportes artísticos, produzidos pela A AAPAAA, Associação dos Artistas Plásticos do Algarve e Amigos da Arte, e a ARTADENTRO, Arte Contemporânea. Na noite de dia 8 a Fábrica da Cerveja encheu, para assistir ao projecto “Nocturno”, que se pretendia um prolongamento da exposição colectiva no sentido de acrescentar ao evento uma dimensão multicultural e interdisciplinar. Foi o caso da performance “Mistermissmissmister”, de Ana Borralho, João Galante e Miguel Moreira. Um trabalho algo intrigante que expõe literalmente a nu o sentido do andrógino. O espectador mais desprevenido, ao entrar numa sala com pouca iluminação vê em destaque três figuras que o obrigam a um segundo olhar. As figuras, sentadas ao lado umas das outras num sofá, estão em destaque através da iluminação. À sua frente estão três cadeiras vazias, convidando o público a sentar-se. O espectador senta-se e é convidado e colocar uns auscultadores que se encontram na mesa que o separa da figura que está em frente. Um olhar mais atento permite ver que existem dois homens e uma mulher. Os homens estão caracterizados com cabeleiras postiças e um rosto maquilhado e a mulher, de cabelo desarranjado, ostenta uma vigorosa barba. Os actores interagem com o espectador através de jogos de olhares e expressões insinuantes do rosto. O espectador pode ou não responder às insinuações dos actores. Mais que uma meditação sobre as fronteiras do oposto masculino/feminino, este tipo de performance leva-nos a reflectir sobre o papel do corpo como objecto artístico. O corpo nu e sensual, o corpo nu e repelente, o corpo apenas nu, como um objecto que pode interagir mas que está ali sobretudo para fazer reagir. De facto, ninguém ficou indiferente à exposição ostensiva dos três corpos com rostos ambíguos. Um mais insinuante, o outro mais agressivo e o terceiro mais indiferente. O corpo como figurino de uma pele que não se quer vestir, ostentando o contraste da face mais visível que passa naquele momento a ser a mais obscura: o rosto transfigurado. Interessante mas pouco entusiasmante pelo facto de não passar de um objecto artístico sem voz própria.
O projecto, em programa a anunciar, contemplará, também, um ciclo de conferências que “conta com a participação de personalidades com relevância teórica ou artística e experiência no campo da temática cultural contemporânea”. A exposição pode ser visitada de terça-feira a domingo, das 10:00 às 18:00 horas. De referir, ainda, que, além das segundas-feiras, a mostra está encerrada nos dias 9 e 23 de Outubro. A exposição, inserida no programa “Faro Capital Nacional da Cultura, 2005”, é comissariada por Vasco Vidigal e integra obras de autores, surgidos desde meados dos anos noventa, algarvios ou que residem e trabalham na região (Ana André, Ângelo Encarnação, Catarina Rosa, Jorge Rodrigues, Nuno Rufino, Otelo Fabião, Stuart Frost, Susana de Medeiros, Teresa Cálem, Teresa Ramos e Vasco Célio). Além disso, vão também expor os seis trabalhos alguns artistas portugueses e estrangeiros (Arlindo Silva, Bruno Pacheco, Catarina Campino, Diogo Pimentão, Fernando Mesquita, Isabel Baraona, Javier Núñez Gasco, Joana Vasconcelos, Juliano Gomes, Mariana Ramos, Maria Manuela Lopes e Paulo Bernardino, Paulo Brighenti, Pedro Gomes, Pedro Ugarte, Rui Vasconcelos, Rui Patacho, Sara Maia e Thierry Simões). Infelizmente, o público não terá oportunidade de assistir às performances efémeras que vivem do corpo do actor, o que por outro lado é mais um desafio à criação.
O projecto, em programa a anunciar, contemplará, também, um ciclo de conferências que “conta com a participação de personalidades com relevância teórica ou artística e experiência no campo da temática cultural contemporânea”. A exposição pode ser visitada de terça-feira a domingo, das 10:00 às 18:00 horas. De referir, ainda, que, além das segundas-feiras, a mostra está encerrada nos dias 9 e 23 de Outubro. A exposição, inserida no programa “Faro Capital Nacional da Cultura, 2005”, é comissariada por Vasco Vidigal e integra obras de autores, surgidos desde meados dos anos noventa, algarvios ou que residem e trabalham na região (Ana André, Ângelo Encarnação, Catarina Rosa, Jorge Rodrigues, Nuno Rufino, Otelo Fabião, Stuart Frost, Susana de Medeiros, Teresa Cálem, Teresa Ramos e Vasco Célio). Além disso, vão também expor os seis trabalhos alguns artistas portugueses e estrangeiros (Arlindo Silva, Bruno Pacheco, Catarina Campino, Diogo Pimentão, Fernando Mesquita, Isabel Baraona, Javier Núñez Gasco, Joana Vasconcelos, Juliano Gomes, Mariana Ramos, Maria Manuela Lopes e Paulo Bernardino, Paulo Brighenti, Pedro Gomes, Pedro Ugarte, Rui Vasconcelos, Rui Patacho, Sara Maia e Thierry Simões). Infelizmente, o público não terá oportunidade de assistir às performances efémeras que vivem do corpo do actor, o que por outro lado é mais um desafio à criação.
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