As luzes acenderam e no palco entrou um homem vestido de negro com a cara pintada de branco. O homem avança e aquilo que eram três cadeiras passa a ser lugares de avião. O homem passa a ter múltiplas personagens, múltiplos rostos. Nós “vemos” o homem subir escadas, desviar-se do homem gordo que ocupa o lugar ao seu lado, barbear um pobre desgraçado que fica sem nariz, escolher a rosa perfeita para a namorada, sofrer a impaciência numa fila para um autocarro que não chega, mudar de máscara para ocultar um rosto de que já se está cansado, acompanhar uma vida inteira em que se ostenta orgulhosamente a herança de um relógio de bolso, participar activamente em várias modalidades dos jogos olímpicos. Isto tudo dividido em nove quadros, suportados num corpo com uma grande alma. De repente nós víamos de facto a angústia do homem que estava a ser barbeado por um aprendiz. Víamos a borboleta a esvoaçar, sentíamos o perfume da rosa acabada de colher. Sem palavras, com muito humor, e sensibilidade, Carlos Martinez convidou o público a interagir com a sua personagem, obtendo dele um amplo acolhimento.
A simplicidade não se explica. Constrói-se com muito esforço, limpando os excessos, construindo o espaço imaginário. Aqui se compreende a magia do espaço vazio que pode ser tudo aquilo que se quiser. Os nove quadros falam com o corpo do actor mostrando-nos a realidade que está dentro da nossa imaginação, havendo a criação do momento teatral em uníssono com o espectador. Podemos perguntar-nos como no filme de Bernardo Bertolucci “Os Sonhadores”, se o melhor é Charlie Chaplin ou Buster Keaton. A reposta não pode tender nenhum deles, tal como não podemos comparar Carlos Martinez a Marcel Marceau. Talvez a resposta seja: o melhor será aquele que da forma mais simples tocar a essência própria do humano. E por vezes, este ou aquele, conseguem-no em momentos especiais. Porque talvez seja a simplicidade o mais difícil a ser criado. Mas quando é conseguido, toca o sublime. Foi o que aconteceu com o espectáculo de Carlos Martinez.
A simplicidade não se explica. Constrói-se com muito esforço, limpando os excessos, construindo o espaço imaginário. Aqui se compreende a magia do espaço vazio que pode ser tudo aquilo que se quiser. Os nove quadros falam com o corpo do actor mostrando-nos a realidade que está dentro da nossa imaginação, havendo a criação do momento teatral em uníssono com o espectador. Podemos perguntar-nos como no filme de Bernardo Bertolucci “Os Sonhadores”, se o melhor é Charlie Chaplin ou Buster Keaton. A reposta não pode tender nenhum deles, tal como não podemos comparar Carlos Martinez a Marcel Marceau. Talvez a resposta seja: o melhor será aquele que da forma mais simples tocar a essência própria do humano. E por vezes, este ou aquele, conseguem-no em momentos especiais. Porque talvez seja a simplicidade o mais difícil a ser criado. Mas quando é conseguido, toca o sublime. Foi o que aconteceu com o espectáculo de Carlos Martinez.
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