O público entra e, ao som do cravo bem temperado, vê os anjos divertindo-se no paraíso. Patinam, jogam badmington, atiram a pena para o público. Uma maneira directa de partilhar as penas das asas, seja qual for o sentido atribuído a penas e a asas. O cenário é composto por uns imponentes painéis que apresentam inscrições onde se podem encontrar as citações bíblicas relativas aos anjos. E é sobre essa estrutura daimónica entre deus e os homens que o espectáculo coreografado por Cláudia Martins e Rafael Carriço trabalhou.
Os anjos aparecem numa primeira visão de branco, dançando como se cumprissem um dever perante uma das suas muitas hierarquias. Rafael Carriço, para assumir a metáfora das sapatilhas de pontas também as calça e, juntamente com as suas colegas, parece voar na majestática elevação dos saltos. Depois dos anjos se apresentarem no meio do seu panteão, nem faltando a popular imagem do anjinho representado por uma menina, a acção muda para a Terra e para o momento em que Cristo é morto na cruz e amparado por sua mãe e por Maria Madalena. Foi um momento emocionante, ao som de um coral intenso, com o qual Rafael Carriço soube emprestar a emoção ao seu corpo. Cláudia Martins também transmitiu uma sensibilidade invulgar nas várias fases da Pietá lacrimosa e sofrida. Este foi um dos grandes momentos do espectáculo. Depois da morte de Cristo e subsequente ressurreição, anunciada pelos anjos, a acção passa para a janela de Fátima, a qual, segundo uma canção popular, serve para Deus repousar o olhar quando está cansado. Da janela de Fátima vimos o mundo na altura dos fenómenos presenciados pelos videntes de Fátima e um pouco mais tarde, aquando da ocupação de Paris pelos nazis. Os anjos observam e não podem intervir, sentindo-se meros espectadores do palco do mundo real. A acção muda para o mundo real e os anjos tornam-se carnais, com sexo definido e asas tingidas pelo desejo e pela luxúria. Por um lado os manequins e por outro o fauno preso pelos grilhões do seu desejo dão ao espectador a possibilidade de se confrontar com o outro lado do ser angelical. Os anjos que perderam as asas e ousaram sentir, como nos mostram tão bem os magníficos filmes de Wim Wenders As Asas do Desejo e Tão Longe e Tão Perto. “Anjinho da Guarda, minha companhia, guardai minha alma de noite e de dia”. Esta oração que todas as crianças recitam antes de adormecer parece ser o mote do espectáculo, pois os anjos pairam sobre os clandestinos, sobre os guerreiros, sobre os arrependidos, sobre os amantes que começam a ver a vida em tons de cor de rosa, com as escolas de samba que, durante três dias alcançam o Céu, exorcizando através da dança e da música um sentido divino.
O espectáculo termina com um anjo ascendendo ao céu levando um dos tesouros mais delicados da Terra: uma flor branca.
Este espectáculo, no qual participaram os bailarinos Cláudia Martins, Rafael Carriço, Kleber Cândido, Melanie Santos, Filipe Pereira, Jorge Libório, Marta Tomé e Clara Simões é uma bonita homenagens às entidades celestiais oriundas do imaginário popular e que se costumam designar por Anjos. No entanto, houve alguns pormenores que emperraram a natural fluidez dos bailarinos, como foi o caso dos cortes na acção para prender os bailarinos ao cabo que os fazia flutuar por sobre o palco.
No geral foi um espectáculo que emocionou, não só porque estávamos em presença de bailarinos com uma técnica muito razoável, como pelo contraste platónico que os coreógrafos fizeram questão de sublinhar entre o mundo arquetípico e o mundo das sombras no qual temos de viver. Um espectáculo em que podemos voltar a sonhar com as mensagens que os anjos nos trazem, em surdina, vidas de longe. Como o daimon socrático. É preciso é estarmos disponíveis para os ouvir. Mesmo que seja para nos dizer qual o caminho que não devemos seguir.
Os anjos aparecem numa primeira visão de branco, dançando como se cumprissem um dever perante uma das suas muitas hierarquias. Rafael Carriço, para assumir a metáfora das sapatilhas de pontas também as calça e, juntamente com as suas colegas, parece voar na majestática elevação dos saltos. Depois dos anjos se apresentarem no meio do seu panteão, nem faltando a popular imagem do anjinho representado por uma menina, a acção muda para a Terra e para o momento em que Cristo é morto na cruz e amparado por sua mãe e por Maria Madalena. Foi um momento emocionante, ao som de um coral intenso, com o qual Rafael Carriço soube emprestar a emoção ao seu corpo. Cláudia Martins também transmitiu uma sensibilidade invulgar nas várias fases da Pietá lacrimosa e sofrida. Este foi um dos grandes momentos do espectáculo. Depois da morte de Cristo e subsequente ressurreição, anunciada pelos anjos, a acção passa para a janela de Fátima, a qual, segundo uma canção popular, serve para Deus repousar o olhar quando está cansado. Da janela de Fátima vimos o mundo na altura dos fenómenos presenciados pelos videntes de Fátima e um pouco mais tarde, aquando da ocupação de Paris pelos nazis. Os anjos observam e não podem intervir, sentindo-se meros espectadores do palco do mundo real. A acção muda para o mundo real e os anjos tornam-se carnais, com sexo definido e asas tingidas pelo desejo e pela luxúria. Por um lado os manequins e por outro o fauno preso pelos grilhões do seu desejo dão ao espectador a possibilidade de se confrontar com o outro lado do ser angelical. Os anjos que perderam as asas e ousaram sentir, como nos mostram tão bem os magníficos filmes de Wim Wenders As Asas do Desejo e Tão Longe e Tão Perto. “Anjinho da Guarda, minha companhia, guardai minha alma de noite e de dia”. Esta oração que todas as crianças recitam antes de adormecer parece ser o mote do espectáculo, pois os anjos pairam sobre os clandestinos, sobre os guerreiros, sobre os arrependidos, sobre os amantes que começam a ver a vida em tons de cor de rosa, com as escolas de samba que, durante três dias alcançam o Céu, exorcizando através da dança e da música um sentido divino.
O espectáculo termina com um anjo ascendendo ao céu levando um dos tesouros mais delicados da Terra: uma flor branca.
Este espectáculo, no qual participaram os bailarinos Cláudia Martins, Rafael Carriço, Kleber Cândido, Melanie Santos, Filipe Pereira, Jorge Libório, Marta Tomé e Clara Simões é uma bonita homenagens às entidades celestiais oriundas do imaginário popular e que se costumam designar por Anjos. No entanto, houve alguns pormenores que emperraram a natural fluidez dos bailarinos, como foi o caso dos cortes na acção para prender os bailarinos ao cabo que os fazia flutuar por sobre o palco.
No geral foi um espectáculo que emocionou, não só porque estávamos em presença de bailarinos com uma técnica muito razoável, como pelo contraste platónico que os coreógrafos fizeram questão de sublinhar entre o mundo arquetípico e o mundo das sombras no qual temos de viver. Um espectáculo em que podemos voltar a sonhar com as mensagens que os anjos nos trazem, em surdina, vidas de longe. Como o daimon socrático. É preciso é estarmos disponíveis para os ouvir. Mesmo que seja para nos dizer qual o caminho que não devemos seguir.
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