Salir convidou os visitantes a privarem, tanto uma realidade rural pouco íntima, como um tempo afastado que ficou no nosso imaginário colectivo como a época da magia: a Idade Média. Época obscura quanto à razão e à ciência, tornou-se luminosa pela literatura que chegou até aos nossos dias. Com as lendas do Rei Artur vieram os feitos maravilhosos de Merlin e Morgana. Com os feitos históricos de Afonso III chegaram as histórias das mouras encantadas. Segundo a lenda, ameaçado pelas tropas de D. Afonso III, o alcaide fugiu do castelo, tendo antes enterrado o seu tesouro, tendo em vista voltar mais tarde, quando conseguissem expulsar os cristãos usurpadores, para o resgatar. Quando os cristãos abordaram o castelo, encontraram-no abandonado, ocupado apenas pela jovem filha do alcaide, que rezava com fervor. Interpelada, explicou aos seus captores que havia preferido ficar no castelo a “salir”. Do alto de um monte vizinho, Aben-Fabilla avistou a filha cativa dos cristãos e, com a mão direita, traçou no ar o signo de Salomão, enquanto proferia uma fórmula mágica. Nesse momento, o cavaleiro D. Gonçalo Peres, que falava com a moura, viu-a transformar-se numa estátua de pedra. A notícia da moura encantada espalhou-se e, um dia, a estátua desapareceu. Em memória desse estranho sucesso ficou aquela terra conhecida por Salir, em homenagem à coragem da jovem moura. Ainda hoje se acredita que, em certas noites, a moura encantada aparece no Castelo de Salir. Dia 5 de Setembro foi uma dessas noites encantadas, nas quais a moura se desocultou perante a multidão. Às 23h30, conforme anunciado, surgem três imagens da moura, em sítios inesperados, acompanhadas de fumos coloridos com uma luz rosa. A moura explica que sempre viveu feliz naquelas terras, onde não havia fome e a terra era generosa, oferecendo figos, amêndoas, e outros frutos com que o mais comum dos mortais se podia deleitar. Conta o ataque dos cristãos e o encantamento feito pelo pai. Desaparece do cimo do torreão maior do Castelo, deixando no ar um fumo de saudade. Esta intervenção juntou genuinamente centenas de populares que quiseram confrontar-se com a bela ilusão da moura. Ouvir, uma vez mais, a história que sabem de cor, verem uma vez mais a imagem quem adivinham, mas passarem pela experiência do imaginário mágico que marca o prazer de fingir que se acredita.
Esta aparição da moura foi precedida por uma pequena animação teatral para manter atento o público que entretanto se tinha juntado ao torreão do castelo de Salir. No final a euforia da aparição conduziu os visitantes a uma festa em que todos os grupos intervenientes na animação deste evento se juntaram, tocando um tema para pular e saudar a despedida.
É sempre tocante quando, com poucos meios, se consegue mobilizar uma multidão a visitar um local recôndito e a acreditar numa ilusão. A entrada foi livre e o espírito saiu mais preenchido.
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