Friday, November 26, 2010

Escola de princesas


“Quem é a princesa do papá?” Esta poderia ser uma das frases com que começaria o espectáculo Escola de Princesas, com autoria e encenação de João Evaristo. Todas as meninas são as mais belas princesas do mundo para os seus pais. Mas… será que elas quereriam mesmo ser princesas? Em caso de dúvida a resposta é sim e as meninas adolescentes são enviadas para uma escola onde supostamente aprendem a ser princesas. Aprendem a andar, a manterem-se em forma, a mostrarem-se apetecíveis e desejáveis, a beijar. Estas são as aulas de dia, ministradas por uma preceptora, porque à noite, nos encontros sorrateiros, a escola é outra: é escola de mulheres que partilham experiências entre uma passa num cigarro e um copo de aguardente. E na escola da vida são os pais que aprendem através das conversas secretas das raparigas o que é ser adolescente hoje em dia. Já não se fala do primeiro beijo mas da experiência de andar com um homem mais velho, ou com uma mulher, ou como ultrapassar a dor de uma violentação. João Evaristo, para além de ter dividido a cena em dois momentos chave, o dia e a noite, dividiu a partilha da noite em dois instantes: o círculo das amigas e a rapariga que está em frente ao espelho de si própria, a desabafar com as suas memórias. E se o jogo da verdade ou consequência pode ser divertido, a catarse das memórias pode ser cruel. Na partilha continua a observar-se o mal-estar perante o elemento que decide não transgredir as regras. A rapariga que decide não fumar é apontada pelas outras e levada a retirar-se. No final a preceptora junta-se ao círculo de confiança e confidencia que, também ela, foi uma candidata a princesa, rejeitada pelo seu príncipe, que nunca a irá buscar montado num cavalo branco para serem felizes para sempre.
O texto foi construído a partir de testemunhos das próprias formandas e o jogo cénico que João Evaristo conseguiu construir foi bastante adequado. As actrizes, à excepção de Marta Vargas, que desde a sua iniciação teatral no grupo de escola secundária de Lagoa há 18 anos, não tem parado de nos surpreender, são todas estreantes. Como espectáculo resultante de uma formação de 50 horas está um trabalho limpo, com uma carga irónica e mordaz, adequada à idade das jovens alunas. O trabalho de interpretação ainda está incipiente mas com algum empenho e depois de soltarem o texto das suas preocupações principais, este trabalho poderá ser um alerta muito sério sobre a sexualidade na adolescência, neste caso, entre as jovens mulheres. Um espectáculo a rever e a apostar como ponto de partida para a educação sexual nas escolas.

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