Friday, November 21, 2008

Amar a Terra


“(…) O essencial é saber ver, / saber ver sem estar a pensar, / saber ver quando se vê, /nem ver quando se pensa.(….)” É com estes versos de Fernando Pessoa que a Companhia de Dança Kamu Suna se apresenta. Esta companhia, fundada por antigos bailarinos do Ballet Gulbenkian e dirigida por César Augusto Moniz, criou uma coreografia, apoiada pela UNESCO, no sentido de contribuir para uma consciência mais responsável acerca do equilíbrio sustentável do nosso planeta.
Para este coreografia a Kamu Suna Ballet Company recorreu a sete bailarinos e a um cantor lírico, Manuel Brás da Costa, que interpretou ao vivo alguns temas de Vivaldi, como o Stabat Mater, ajudando e despertar no espectador uma luz interior de que só este compositor é capaz de fazer sentir.
As coreografias tiveram o apoio de imagens do planeta Terra projectadas numa tela ao fundo do palco. Árvores, o oceano, a fauna, a flora, a cidade com a velocidade que a caracteriza. A Terra, o Amor, o Homem, são conceitos que os bailarinos desenvolvem em palco através dos seus corpos e das suas emoções. O coreógrafo assume que a coreografia brota da Consciência Universal. A partir deste sentimento podemos ver na tela a síntese perfeita entre o movimento e a imagem daquilo que nos faz reconhecer, não só como humanos, mas como pertencentes a um organismo total e global que nos encerra.
Os bailarinos chamam-nos a atenção para a necessidade de reduzir, reutilizar, reciclar e refazer. As letras são projectadas no écran e o bailarinos dançam sobre as palavras chave para a manutenção do planeta.
Os momentos altos foram aqueles em que os bailarinos actuaram tendo como suporte a voz do contra-tenor Manuel Brás da Costa. A voz e o movimento dos bailarinos atingiram momentos de uníssono perturbantes que contribuíram para a elevação da tal consciência Universal que se busca.
Segundo a produção, este é um espectáculo onde se pretende “identificar, reflectir sobre – as condutas, as aspirações e os imaginários que movem os indivíduos e as sociedades nos dias de hoje induzindo a uma mudança consciente e positiva do pensamento humano em relação ao futuro do nosso planeta.”


A KAMU SUNA Ballet Company foi fundada em Lisboa a 4 de Janeiro de 2006 pelo Primeiro bailarino e Coreógrafo do Ballet Gulbenkian César Augusto Moniz. Composta por 8 bailarinos, alguns dos quais solistas e primeiros bailarinos oriundos do Ballet Gulbenkian, pretende irromper das nossas raízes ancestrais para unificar a multiplicidade de linguagens de expressão, fortemente inspiradas no reencontro do Oriente com o Ocidente. A nova proposta artística aposta num processo criativo que parte da experimentação do movimento original, fazendo emergir um novo vocabulário corporal e anímico na dança.
Outra prioridade da Companhia é “desenvolver um trabalho dedicado às crianças, mediante a realização de workshops e bailados em que os mais novos têm a oportunidade de participar activamente, absorvendo e transmitindo tudo o que a música e a dança podem expressar. Os espectáculos respiram e revelam-se a partir das várias formas de arte como a escultura, o teatro, a dança, a ópera, a pintura ou a poesia. A dimensão de representação atravessa o tempo e o espaço como paisagem que religa o corpo ao espírito”.
Num diálogo entre movimento, música e imagens visuais, a Companhia desenha-se livre de preconceitos, diferente e igual a si própria, a caminho de uma nova concepção do Mundo, onde a inovação e a criatividade propõem a cada espectador uma reflexão que pode induzir a um processo de transformação pessoal, social e cultural.
Relativamente ao espectáculo Amar a Terra, no Centro Cultural de Lagos, foi pena não ter sido distribuída uma folha de sala contendo contributos para a leitura do espectáculo, ou a identificação do suporte musical, a que os espectadores devem ter direito, ou à distribuição do elenco da companhia. Foi pena também os cortes que a emoção do espectador sofreu com o visionamento de um écran de projecção do dvd azul, onde se podiam ver as indicações técnicas. Quando vemos profissionais de longa craveira e com a excelência que nos deu o Ballet Gulbenkian não esperamos confrontar-nos com estas falhas técnicas. É por isso que por vezes o corpo, em si mesmo, ultrapassa qualquer artifício técnico, tornando-o desnecessário.

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