O tema é actual e difícil. A violência física e psicológica que alguns adolescentes exercem sobre os colegas nas escolas tem sido recorrente. No entanto, não é pelo facto de ser um tema transversal, que se refaz a cada ano lectivo, que os educadores vão deixar de o trazer à discussão. A ACTA elegeu o bulliyng como o tema central para espicaçar a discussão entre alunos e professores e, juntos, conseguirem encontrar uma solução para este problema inquietante. Quem não se lembra de ter sido ameaçado na escola ou de se ter sentido desconfortável e até tenso com a perspectiva de voltar a entrar no recinto escolar?
Bullying: O que é?
Mas de que é que estamos a falar quando falamos de bullying? O termo foi criado nos anos 80 nos países do Norte da Europa. Com ele se pretende definir comportamentos de natureza agressiva entre os adolescentes, com a intenção de prejudicar o outro, seja psicológica, seja fisicamente. Actualmente o Bullying é objecto de estudos universitários, tendo os técnicos especializados chegado à conclusão que este fenómeno está a ganhar uma nova dimensão, com a agravante da violência exercida sobre um determinado sujeito ser continuada e não pontual.
De acordo com um estudo da psicóloga Ana Vasconcelos, o que está na base deste tipo de violência gratuita é a necessidade de afirmação perante o grupo. "Há alturas em que a criança, para se sentir segura, precisa de mostrar aos outros que é mais forte. O bullying pode ser encarado como uma forma de exorcizar os medos. Os agressores vão detectando as suas vítimas nos recreios da escola". O bullying baseia-se, por isso, numa luta desigual: há uma vítima e um agressor (também conhecido por bully). As vítimas são, normalmente, "miúdos emocionalmente retraídos e com menos capacidades para encontrarem soluções ou fazerem queixa".
Com texto de Glória Fernandes, Luis Miranda e Paulo Moreira, que também assina a encenação, os actores da ACTA souberam apontar vários aspectos das relações dos bullys com as suas vítimas. Ao longo do espectáculo vemos como as vítimas vão sendo ameaçadas através de mensagens de telemóvel, de abordagens directas nos recreios, ou até mesmo na própria sala de aula. O facto do texto ter sido elaborado por três professores do ensino básico e secundário é um elemento chave que confere verdade à representação. Os actores Elisabete Martins, Mário Spencer, Pedro Mendes e Tânia Silva transportaram-nos para o mundo cruel do bullying. Vemos s bullys minarem a auto-estima dos colegas e as vítimas irem ficando com uma capacidade de reacção cada vez menor. É um factor a ter em conta o facto dos miúdos agressores terem uma auto-estima elevada e uma grande confiança em si próprios. No entanto, a auto-imagem do bully é alimentada pelo sofrimento e domínio que exercem sobre os colegas.
Quem são os bullys?
Um estudo académico da autoria de Susana Carvalhosa, Luísa Lima e Margarida Matos mostra que, numa amostra de cerca de 7000 jovens que frequentam escolas portuguesas, cerca de 21% dos jovens foram vitimados «alguma vez
ou mais» e 10% provocaram outros. Cerca de metade da população em estudo não se envolveram nestes comportamentos e apenas 26% se envolveu duplamente. Mas este dado vem também confirmar que os alunos mais novos são mais frequentemente vitimados do que os alunos mais velhos. Também se mostra que os rapazes envolvem-se mais em comportamentos de provocação, vitimação e envolvimento duplo; também alunos mais novos são mais frequentemente vítimas e a frequência de serem ameaçados diminuiu à medida que aumenta a idade.
No que diz respeito às características dos provocadores, verificou-se que estes têm índices de violência fora da escola maiores que as vítimas, têm piores relações com os pais do que o grupo sem envolvimento. Têm mais sintomas de depressão e maiores queixas de sintomas físicos e psicológicos do que o grupo sem envolvimento. São os maiores consumidores de drogas e de tabaco e álcool. Relativamente ao grupo sem envolvimento praticam mais exercício físico e têm melhor imagem corporal. Têm uma atitude desfavorável em relação à escola quando comparados com as vítimas e menores expectativas de futuro quando comparados com o grupo sem envolvimento, são o grupo dos alunos mais velhos e têm mais escolaridade que as vítimas.
Quanto às características dos jovens com envolvimento duplo, verificou-se que têm índices de violência fora da escola maiores do todos os outros grupos, têm piores relações com os pais do que o grupo sem envolvimento são aqueles que têm piores relações com pares. São os que exibem, de todos os grupos, mais sintomas de depressão e apresentam mais queixas de sintomas físicos e psicológicos. Consomem mais drogas do que as vítimas e do que os sem envolvimento, consomem mais tabaco e álcool do que as vítimas, são aqueles que mais exercício físico praticam e que têm melhor imagem corporal. São os que têm a atitude face à escola mais desfavorável, têm menores expectativas de futuro quando comparados com o grupo das vítimas e com o grupo sem envolvimento, têm um nível socio-económico mais baixo do que o grupo sem envolvimento, são o grupo dos alunos mais novos e têm menos escolaridade. Podemos assim afirmar que o grupo com envolvimento duplo é aquele onde se verifica existirem maiores factores de risco, isto porque se envolvem mais em comportamentos de violência fora da escola, revelam mais queixas de depressão e de sintomas físicos e psicológicos. Este perfil mostra a necessidade de se proporcionar a estes jovens acompanhamento adequado, uma vez que os factores de risco parecem ter um efeito não apenas aditivo, mas multiplicativo, ou seja a probabilidade aumenta consideravelmente quando aumenta o número de factores de risco que afectam o jovem.
Quem são as vítimas?
Em relação às características das vítimas, verificou-se que são aquelas que têm piores relações
com pares e com os pais quando comparados com o grupo sem envolvimento. Têm mais sintomas de depressão e maiores sintomas físicos e psicológicos. Consomem menos drogas, praticam mais exercício físico e têm melhor imagem corporal. Têm uma atitude mais desfavorável em relação à escola do que o grupo sem envolvimento, são os que menos tabaco e álcool consomem, apresentam menores expectativas de futuro, são o grupo dos alunos mais novos e têm menos escolaridade que os provocadores.
Os determinantes dos comportamentos de provocação e de vitimação, revelam um mal-estar e uma falta de saúde positiva entre os jovens envolvidos no bullying. Pelo contrário é de realçar que os jovens devem possuir saúde positiva e um bem-estar de modo a não se envolverem nestes tipos de comportamento. Ainda, em relação à análise do padrão de comportamentos dos jovens que se encontram duplamente envolvidos, é de realçar um exagero de mal-estar, como já foi referido.
A violência fora da escola ser um determinante dos comportamentos de provocação e de vitimação, explica que também fora da escola os indivíduos se envolvem em comportamentos anti-sociais. Isto dá-nos a entender a dimensão que este problema pode atingir se não forem tomadas medidas adequadas para o prevenir.
A ACTA através de uma linha de teatro interactivo, iniciada com o espectáculo O Longo Sono da Heroína alerta para todos estes factores e tenta, com a construção de um final sugerido pelos alunos, mostrar caminhos para a resolução deste problema grave que se está a alastrar na sociedade portuguesa. Com encenação de Paulo Moreira, neste espectáculo os alunos participam, entusiasmam-se, tomam partido, defendem os mais fracos. É a diferença entre uma mostra pura e simples do problema e a destruição da quarta parede.
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