Uma coreografia assente na música de Shostakovich é sempre um trabalho perturbador que desencadeia emoções profundas. O que aconteceu no Auditório Municipal de Portimão no passado dia 27 de Abril foi uma confirmação desse bater à porta da nossa emoção. A compania Nacional de Bailado começou o seu espectáculo com a coreografia Front Line, de Henri Oguike com música Música Dimitri Shostakovich - Quarteto de Cordas nº 9 EB major op.117- Desenho de Luz de Guy Hoare eFigurinos de Liliana Mendonça. Esta primeira coreografia, de apenas quinze minutos de duração, foi de uma intensidade perturbadora, dada a técnica dos bailarinos e os ritmos de Shostakovitch. Quinze minutos foi o tempo adequado para apreciar a intensidade daquele encontro entre a música e os corpos. Uma fusão muito bem conseguida, plena de energia de grupo, mostrando uma sincronia perfeita a acompanhar ritmos violentos e fortes. A coreografia de Henri Oguike juntou o corpo ao pulsar da música, permitindo um fluir dos sons também através dos corpos. Aqui se começou a vislumbrar a ligação de Ogike à expressão dramática, quando fez soltar os sons a partir dos seus bailarinos
A segunda coreografia, Lento para quarteto de cordas, de Vasco Wallenkamp, assenta em excertos de obras para cravo de Anton Webern. O magnífico Desenho de Luz foi assinado pelo olhar experiente e poético de Cristina Piedade, desta vez assessorada por Vasco Wellenkamp. Os figurinos tiveram, mais uma vez, a mão de Liliana Mendonça. A cenografia é composta por um pás de deux tocante que exprime a emoção do sentimento amoroso. Os figurinos tomaram uma especial dimensão nesta coreografia, criando uma figura etérea que flutua ao sabor do sentimento amoroso. Não é por acaso que esta coreografia nos evoca alguns momentos do bailado de Olga Roriz Pedro e Inês, uma vez que o desenho de luz foi também concebido por Cristina Piedade. O desenho de luz, a par da música de Webern, foram os intérpretes desta belíssima coreografia. O par de bailarinos dançava com a luz, gerando uma cumplicidade rara. A música, intimista, criava por si só uma atmosfera especial que se intensificava com o desenho de luz. Os corpos formavam o apontamento final, contribuindo com a dimensão humana para a carga orgânica que toda a coreografia já em si continha. Um momento prodigioso. É bem patente o diálogo que, neste caso, os figurinos têm, quer com os bailarinos, quer com a música de Webern. Esta coreografia foi a ideal para despertar no espectador sensações de bem-estar. A música de Webern convidava a uma alegre celebração e os corpos, possuídos de um entusiasmo muito próprio, transmitiam alegria e vontade de viver. A harmonia dos bailarinos que dançavam aquela música conciliadora e anímica, expressa pela coreografia e acompanhada pelos diferentes matizes desenhados pela luz foram a perfeita união de artes para uma coreografia perfeita. O preencher daquele espaço na nossa consciência que corresponde à pulsão de vida: a criação da vontade de viver. Cantata foi um dos grandes momentos da noite. Com Coreografia de Mauro Bigonzetti, Arranjo musical do Gruppo Musicale Assurd, a partir de música original e tradicional do sul de Itália, os figurinos foram concebidos por Helena Medeiros, e desenho de Luz por Carlo Cerri. Esta coreografia fala-nos dos jogos amorosos que existem em alguns grupos rurais. A origem da música está no Sul de Itália, mas poderia estar numa aldeia da Andaluzia ou em Trás-os-Montes. Bigonzetti criou "Cantata" a partir de canções tradicionais napolitanas do século XVIII. Para o coreógrafo italiano, a peça incide nas fortes semelhanças que considera existirem entre a cidade italiana de Nápoles e Lisboa: ambas são cidades litorais, com bairros antigos e mulheres parecidas na beleza, no espírito e no carácter apaixonado. O trabalho começa com uma formação em V, de onde se ouvem apenas as vozes dos bailarinos a entoarem um canto tradicional. Afinados, dentro do ritmo, cantando a duas vozes, introduziram o público no contexto de uma ruralidade quase remota. Depois deste cantar quase sagrado, os bailarinos começaram então a entregar-se à dança. E essa dança, plena de uma tensão sexual, geradora de uma energia especial, foi o retrato da alma latina. Sensuais, barulhentos, desordeiros, apaixonados, os bailarinos mostraram como, a par de uma técnica irrepreensível, mostrar a alma de um povo. Um ritmo alucinante, um sentido de humor constante contagiaram o auditório de uma vontade de dançar. O resultado foi uma ovação de pé por parte do público que quase lotou o Auditório Municipal de Portimão. Uma digna homenagem ao mês na dança neste evento da Dança na Primavera, de Portimão.
A segunda coreografia, Lento para quarteto de cordas, de Vasco Wallenkamp, assenta em excertos de obras para cravo de Anton Webern. O magnífico Desenho de Luz foi assinado pelo olhar experiente e poético de Cristina Piedade, desta vez assessorada por Vasco Wellenkamp. Os figurinos tiveram, mais uma vez, a mão de Liliana Mendonça. A cenografia é composta por um pás de deux tocante que exprime a emoção do sentimento amoroso. Os figurinos tomaram uma especial dimensão nesta coreografia, criando uma figura etérea que flutua ao sabor do sentimento amoroso. Não é por acaso que esta coreografia nos evoca alguns momentos do bailado de Olga Roriz Pedro e Inês, uma vez que o desenho de luz foi também concebido por Cristina Piedade. O desenho de luz, a par da música de Webern, foram os intérpretes desta belíssima coreografia. O par de bailarinos dançava com a luz, gerando uma cumplicidade rara. A música, intimista, criava por si só uma atmosfera especial que se intensificava com o desenho de luz. Os corpos formavam o apontamento final, contribuindo com a dimensão humana para a carga orgânica que toda a coreografia já em si continha. Um momento prodigioso. É bem patente o diálogo que, neste caso, os figurinos têm, quer com os bailarinos, quer com a música de Webern. Esta coreografia foi a ideal para despertar no espectador sensações de bem-estar. A música de Webern convidava a uma alegre celebração e os corpos, possuídos de um entusiasmo muito próprio, transmitiam alegria e vontade de viver. A harmonia dos bailarinos que dançavam aquela música conciliadora e anímica, expressa pela coreografia e acompanhada pelos diferentes matizes desenhados pela luz foram a perfeita união de artes para uma coreografia perfeita. O preencher daquele espaço na nossa consciência que corresponde à pulsão de vida: a criação da vontade de viver. Cantata foi um dos grandes momentos da noite. Com Coreografia de Mauro Bigonzetti, Arranjo musical do Gruppo Musicale Assurd, a partir de música original e tradicional do sul de Itália, os figurinos foram concebidos por Helena Medeiros, e desenho de Luz por Carlo Cerri. Esta coreografia fala-nos dos jogos amorosos que existem em alguns grupos rurais. A origem da música está no Sul de Itália, mas poderia estar numa aldeia da Andaluzia ou em Trás-os-Montes. Bigonzetti criou "Cantata" a partir de canções tradicionais napolitanas do século XVIII. Para o coreógrafo italiano, a peça incide nas fortes semelhanças que considera existirem entre a cidade italiana de Nápoles e Lisboa: ambas são cidades litorais, com bairros antigos e mulheres parecidas na beleza, no espírito e no carácter apaixonado. O trabalho começa com uma formação em V, de onde se ouvem apenas as vozes dos bailarinos a entoarem um canto tradicional. Afinados, dentro do ritmo, cantando a duas vozes, introduziram o público no contexto de uma ruralidade quase remota. Depois deste cantar quase sagrado, os bailarinos começaram então a entregar-se à dança. E essa dança, plena de uma tensão sexual, geradora de uma energia especial, foi o retrato da alma latina. Sensuais, barulhentos, desordeiros, apaixonados, os bailarinos mostraram como, a par de uma técnica irrepreensível, mostrar a alma de um povo. Um ritmo alucinante, um sentido de humor constante contagiaram o auditório de uma vontade de dançar. O resultado foi uma ovação de pé por parte do público que quase lotou o Auditório Municipal de Portimão. Uma digna homenagem ao mês na dança neste evento da Dança na Primavera, de Portimão.
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