Recriando o formato do espectáculo As Obras Completas de Shakespeare, que cumpre o heróico feito de estar em cena há cerca de 12 anos, a Companhia Teatral do Chiado estreou em Setembro o espectáculo A Bíblia: Toda a Palavra de Deus (Sintetizada), de Adam Long, Reed Martin e Austin Tichenor. Esse espectáculo continua em digressão pelo país, divertindo a partir de um tema convencionalmente considerado sério: A Palavra de Deus, exposta nos livros sagrados que compõem a Bíblia. Interpretados por João Craveiro, Paulo Duarte Ribeiro e Tobias Monteiro, a encenação continua a seguir a linha de Juvenal Garcês.
O espectáculo assume-se como um musical divertido que conta com a composição de, pelo menos, 10 temas, da autoria de João Craveiro e Paulo Duarte Ribeiro. As coreografias originais também são da autoria de Paulo Duarte Ribeiro.
O espectáculo baseia-se na sequência dos livros da Bíblia, passando por eles desdramatizando o teor pesado que geralmente se dá ao livro sagrado. Ao invés de se jurar sobre ele, dança-se e ri-se sobre ele. O espectáculo começa com o informe, simulando o caos inicial. Os actores rompem uma espécie de saco vitelino de onde surgem para a luz e para a vida no paraíso. Um órgão de igreja, ao canto, que permite o epíteto da Palavra de Deus “sintetizada” vai assinalando as passagens mais importantes. Até de descobrimos que no primeiro dia Deus criou o Céu e a Terra, no 2º fez bacalhau com batatas, ao 3º dia criou a terra e os céus, no 4º já fez peixe grelhado com batatas e brócolos… É dentro deste espírito provocador que os três actores ousam brincar com uma das religiões do Livro. O texto foi adaptado à realidade portuguesa, e ao contexto actual. É brilhante a forma como se brinca com o Genesis, articulando o grupo de Peter Gabriel com o 1º livro da Bíblia, fazendo de imediato a relação com Kate Bush. Mas se este jogo sintáctico de relações algo absurdas é evidente para quem viveu nos anos 80, o público mais jovem e o público menos atento aos fenómenos musicais tem de ter outro tipo de referências para perceber as relações e activar o dispositivo que provoca o riso. Por isso é feita também a alusão à memórias das feiras para o estado pós-mortem. Segundo a visão da Bíblia contada às crianças, os mortos chacinados, não teriam sido chacinados mas ido para a “Terra do Leitinho com mel”, onde podiam brincar na roda gigante, nos carros de choque, ao som do Eye of The Tiger. O ritmo, enérgico ao princípio, vai perdendo a sua intensidade com alguns quadros mais morosos, como o da Arca de Noé, ou o das Tábuas de Moisés, desvendando os dez mandamentos não editados, dos 20 iniciais. Há piadas bem conseguidas, como a do desporto rei ser a patinagem artística, com o seu público bem educado e culto, apreciando as acrobacias bonitas, até à piada mais regional, como a do mandamento que obriga ao estacionamento livre e acessível em Portimão. Aliás, as piadas adaptadas à realidade nacional nem sempre foram felizes, como as que se brincava jocosamente com colegas de outras companhias de teatro ou mesmo… com Sérgio Godinho.
No global o espectáculo assentou num desempenho muito positivo dos actores, que brincavam consigo próprios, dando gerando por vezes a confusão entre o que é representação e o que é uma discussão entre colegas de trabalho. Talvez se abusasse das piadas acerca dos rapazes “com um piquinho a azedo”, descendo o nível das piadas a uma brejeirice quase rasteiro. No entanto, a boa disposição desceu do palco à plateia e a comédia teve eco nos diversos tipos de público que enchiam o auditório de Lagoa.
O espectáculo assume-se como um musical divertido que conta com a composição de, pelo menos, 10 temas, da autoria de João Craveiro e Paulo Duarte Ribeiro. As coreografias originais também são da autoria de Paulo Duarte Ribeiro.
O espectáculo baseia-se na sequência dos livros da Bíblia, passando por eles desdramatizando o teor pesado que geralmente se dá ao livro sagrado. Ao invés de se jurar sobre ele, dança-se e ri-se sobre ele. O espectáculo começa com o informe, simulando o caos inicial. Os actores rompem uma espécie de saco vitelino de onde surgem para a luz e para a vida no paraíso. Um órgão de igreja, ao canto, que permite o epíteto da Palavra de Deus “sintetizada” vai assinalando as passagens mais importantes. Até de descobrimos que no primeiro dia Deus criou o Céu e a Terra, no 2º fez bacalhau com batatas, ao 3º dia criou a terra e os céus, no 4º já fez peixe grelhado com batatas e brócolos… É dentro deste espírito provocador que os três actores ousam brincar com uma das religiões do Livro. O texto foi adaptado à realidade portuguesa, e ao contexto actual. É brilhante a forma como se brinca com o Genesis, articulando o grupo de Peter Gabriel com o 1º livro da Bíblia, fazendo de imediato a relação com Kate Bush. Mas se este jogo sintáctico de relações algo absurdas é evidente para quem viveu nos anos 80, o público mais jovem e o público menos atento aos fenómenos musicais tem de ter outro tipo de referências para perceber as relações e activar o dispositivo que provoca o riso. Por isso é feita também a alusão à memórias das feiras para o estado pós-mortem. Segundo a visão da Bíblia contada às crianças, os mortos chacinados, não teriam sido chacinados mas ido para a “Terra do Leitinho com mel”, onde podiam brincar na roda gigante, nos carros de choque, ao som do Eye of The Tiger. O ritmo, enérgico ao princípio, vai perdendo a sua intensidade com alguns quadros mais morosos, como o da Arca de Noé, ou o das Tábuas de Moisés, desvendando os dez mandamentos não editados, dos 20 iniciais. Há piadas bem conseguidas, como a do desporto rei ser a patinagem artística, com o seu público bem educado e culto, apreciando as acrobacias bonitas, até à piada mais regional, como a do mandamento que obriga ao estacionamento livre e acessível em Portimão. Aliás, as piadas adaptadas à realidade nacional nem sempre foram felizes, como as que se brincava jocosamente com colegas de outras companhias de teatro ou mesmo… com Sérgio Godinho.
No global o espectáculo assentou num desempenho muito positivo dos actores, que brincavam consigo próprios, dando gerando por vezes a confusão entre o que é representação e o que é uma discussão entre colegas de trabalho. Talvez se abusasse das piadas acerca dos rapazes “com um piquinho a azedo”, descendo o nível das piadas a uma brejeirice quase rasteiro. No entanto, a boa disposição desceu do palco à plateia e a comédia teve eco nos diversos tipos de público que enchiam o auditório de Lagoa.
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